A lida profissional levou-me até
às Caldas da Rainha para uma conversa com um grupo bem grande de professores a
que os colegas que a organizaram deram o título, “Aprendizagem e ensinagem diferenciada – Aprendemos e ensinamos todos da
mesma maneira?”. Um desafio duro como calculam. É claro que não aprendemos
todos da mesma forma mas também é muito claro que contrariamente ao que se
desejaria cada vez se torna é mais difícil ensinar de forma diferente.
De facto, depois de algumas
décadas em que se tentou, com avanços e com recuos, com dúvidas e dificuldades,
pensar e estruturar uma escola que pudesse ser capaz de diferenciar, de
incluir, de acomodar diferenças entre os alunos a escola tem vindo a ser
reorientada para uma perspectiva de "normalização" que, do meu ponto
de vista, produz exclusão.
Esta visão de
"normalização" é estruturante de toda a política educativa. Traduz-se
de forma substantiva na hipervalorização da avaliação externa em detrimento da
avaliação de natureza mais formativa. A OCDE tem alertado em sucessivos
documentos para este caminho mas parece estar instalada a ideia de que os
exames, só por existirem, promovem qualidade, o que, evidentemente, não
acontece, antes pelo contrário, promovem uma retenção que não contém potencial
de melhorias como bem assinalou o CNE em relatório recente.
Em consequência desta
"examocracia" em que se tem transformado o nosso sistema educativo, a
pressão para resultados traduzida, por exemplo, em rankings, constrói-se um
processo educativo de "normalização", burocratizado e pouco flexível.
Este caminho produz um efeito
curioso que está a emergir, o abaixamento das retenções nos anos com exame final
e uma subida significativa nos anos sem exame. As escolas pressionadas pelas
consequências da avaliação externa “filtram” através da avaliação interna os
alunos que levam a exame.
Neste contexto é peça importante
a organização curricular, altamente prescritiva, extensa e burocratizada,
assente em metas curriculares também extensas e, dizem os especialistas,
inadequadas que fazem correr o sério risco de que o ensino se transforme na
gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas
implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os
alunos, os seus ritmos de aprendizagem, criando ambientes escolares pouco
amigáveis, por assim dizer, para crianças que experimentem algum tipo de
dificuldade.
Dito de outra maneira, a escola
estará a sentir progressiva dificuldade acomodar as diferenças, pois deve
acrescentar-se a insuficiência de recursos docentes e técnicos fruto da
política contabilística do MEC. É ainda de referir que em muitas salas de aula
o número de alunos por turma dificulta seriamente qualquer tentativa de
diferenciação de trabalho dos professores.
Assim, vítimas de uma espécie de
"darwinismo" educativo, vão “patinando” ou saindo das salas de aula
os "menos dotados", os "preguiçosos", os "sem jeito
para a escola", que são remetidos, "empurrados" para espaços
guetizados ou vias educativas consideradas de segunda, dentro ou fora das
escolas.
Neste contexto inquietante em que
a maioria dos professores, apesar do MEC, tenta reinventar diariamente o
sentido da sua missão e acolher todos os alunos parece-me na verdade difícil
caminhar no sentido de promover diferenciação pedagógica, a única forma de
acomodar as diferenças entre os alunos ou seja, para voltar ao título desafiante
do encontro de hoje nas Caldas, ensinar de forma diferente os alunos porque …
são diferentes.
Mas não podemos desistir. Pelos miúdos e pelo seu futuro.
1 comentário:
Caro Professor, boa noite deixo este artigo do Público. É triste este Ministro, estamos a retroceder, alguns anos.
Ministério recusa acabar com distinção entre universidades e politécnicos
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/mec-recusa-acabar-com-distincao-entre-universidades-e-politecnicos-1701311
Cumprimentos
Pedro.
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