A “simpatia e generosidade” verificada
em algumas escolas, sobretudo privadas mas também públicas, inflacionando as notas internas é
algo conhecido de há muito. O CNE já tinha, aliás, chamado a atenção para este dado e um
estudo da Universidade do Porto divulgado em Janeiro também o indiciou
claramente.
Aliás, é reconhecido que em
muitas zonas, as escolas, privadas, sobretudo, mas também algumas públicas, são
"escolhidas" pelas famílias também em função do conhecimento da sua "simpatia e generosidade".
Aliás, curiosamente, segundo a
investigação da Universidade do Porto, é justamente nos colégios sem contratos
de associação, os que recebem “apenas” os alunos que entendem, que as notas
internas são mais “inflacionadas”, por assim dizer.
Na altura em que o estudo foi
conhecido os responsáveis pelas escolas em que o “fenómeno” é mais evidente
tentam explicá-lo de formas diferentes e em alguns aspectos até bastante
curiosas, projecto pedagógico ou educativo da instituição, entendimento
diferenciado sobre o próprio papel da avaliação interna, etc. No mesmo sentido,
o Director da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e
Cooperativo, sempre criativo, referia ao Público uma justificação em torno de
"estratégias pedagógicas" que se podia considerar uma peça
antológica.
Este fenómeno de “simpatia e
generosidade”, apesar de não se verificar apenas no secundário tem aqui especial
incidência pelo impacto que a média final dos alunos tem no acesso ao ensino
superior. Esta uma das razões pelas quais de há muito defendo mudanças no
dispositivo de acesso ao ensino superior.
Ainda a propósito de notas inflacionadas
seria desejável que a investigação da Inspecção-Geral de Educação e Ciência se
dirigisse também para o que se está a passar em algumas escolas, sobretudo
privadas, durante a época de exames. São por demais conhecidas situações,
algumas identificadas nas redes sociais, de atropelos às regras apertadas de confidencialidade
e impossibilidade de ajuda aos alunos definidas pelo MEC.
Relatam-se situações de
conhecimento prévio dos exames ou de ajudas aos alunos na sua realização. Provavelmente
trata-se também do uso das tão afirmadas autonomia e liberdade de educação.
O clima de competição, a
centração em resultados e produtividade, a pressão para a excelência e para o
ranking fomentam um “vale (quase) tudo” que é pouco favorável à formação dos
alunos e à qualidade do trabalho de escolas, professores e alunos. Neste clima
é mais fácil que possam emergir comportamentos eticamente reprováveis ou mesmo delinquentes.
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