quinta-feira, 9 de julho de 2015

AS ESCOLAS SIMPÁTICAS E GENEROSAS


A “simpatia e generosidade” verificada em algumas escolas, sobretudo privadas mas também públicas, inflacionando as notas internas é algo conhecido de há muito. O CNE já tinha, aliás, chamado a atenção para este dado e um estudo da Universidade do Porto divulgado em Janeiro também o indiciou claramente.
Aliás, é reconhecido que em muitas zonas, as escolas, privadas, sobretudo, mas também algumas públicas, são "escolhidas" pelas famílias também em função do conhecimento da sua "simpatia e generosidade".
Aliás, curiosamente, segundo a investigação da Universidade do Porto, é justamente nos colégios sem contratos de associação, os que recebem “apenas” os alunos que entendem, que as notas internas são mais “inflacionadas”, por assim dizer.
Na altura em que o estudo foi conhecido os responsáveis pelas escolas em que o “fenómeno” é mais evidente tentam explicá-lo de formas diferentes e em alguns aspectos até bastante curiosas, projecto pedagógico ou educativo da instituição, entendimento diferenciado sobre o próprio papel da avaliação interna, etc. No mesmo sentido, o Director da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, sempre criativo, referia ao Público uma justificação em torno de "estratégias pedagógicas" que se podia considerar uma peça antológica.
Este fenómeno de “simpatia e generosidade”, apesar de não se verificar apenas no secundário tem aqui especial incidência pelo impacto que a média final dos alunos tem no acesso ao ensino superior. Esta uma das razões pelas quais de há muito defendo mudanças no dispositivo de acesso ao ensino superior.
Ainda a propósito de notas inflacionadas seria desejável que a investigação da Inspecção-Geral de Educação e Ciência se dirigisse também para o que se está a passar em algumas escolas, sobretudo privadas, durante a época de exames. São por demais conhecidas situações, algumas identificadas nas redes sociais, de atropelos às regras apertadas de confidencialidade e impossibilidade de ajuda aos alunos definidas pelo MEC.
Relatam-se situações de conhecimento prévio dos exames ou de ajudas aos alunos na sua realização. Provavelmente trata-se também do uso das tão afirmadas autonomia e liberdade de educação.
O clima de competição, a centração em resultados e produtividade, a pressão para a excelência e para o ranking fomentam um “vale (quase) tudo” que é pouco favorável à formação dos alunos e à qualidade do trabalho de escolas, professores e alunos. Neste clima é mais fácil que possam emergir comportamentos eticamente reprováveis ou mesmo delinquentes.

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