Num intervalo dos trabalhos do 8th
Inclusive and Supportive Education Congresso de 2015 realizado em Lisboa, “Equity
and Inclusion in Education”, e para o qual a Comissão Organizadora teve a gentileza
de convidar a intervir sobre “Avanços e Reformas necessárias nas Políticas”,
alguns colegas vieram falar da sua inquietação com algo que partilho e que
creio já ter aqui referido há algum tempo.
As escolas, depois de um processo
de decisão e análise interna propõem, através de uma plataforma, há sempre mais
uma plataforma, aos Serviços do MEC o número de turmas a constituir. Neste
processo está igualmente previsto o pedido de redução do número de alunos por
turma devido à existência de alunos com necessidades educativas especiais. O
processo é acompanhado por informação sobre estes alunos.
Os Serviços analisam e decidem
acolher, ou não, a proposta da escola. Assim, são identificados os “redutores”,
os alunos que permitem reduzir a turma e os “inibidores”, os que apesar dos
seus problemas não permitem a redução do efectivo de turma.
Nem sei bem por onde começar.
Apesar da retórica da autonomia e
como é evidente o MEC não confia nas escolas, nos seus órgãos e nos
professores. Assim sendo, são os Serviços que analisam e decidem sobre o número de turmas e o seu efectivo. Elucidativo.
Neste processo, lá longe da
escola alguém decide se um aluno é “redutor” ou “inibidor” para que a escola
possa reduzir o número de alunos por turma de acordo com a legislação que nem
sequer é sempre cumprida como as escolas bem sabem.
Este processo, para além do
atropelo à autonomia das escolas ainda me parece grave na medida em que uma
decisão desta natureza é tomada de um forma administrativa e longe da realidade,
dos seus contornos e especificidades que não cabem, evidentemente, num processo
administrativo. Uma nota ainda para a linguagem, os “redutores e os “inibidores”.
Por isso tantas vezes falo de
como verdadeiramente o MEC recusa a autonomia das escolas e entende a inclusão
como um processo de natureza administrativa.
Lembram-se certamente de que,
creio, em Setembro de 2013 Nuno crato ter afirmado numa entrevista televisiva que
os alunos com necessidades educativas especiais
“estão integrados na turma mas na
verdade não estão. Naturalmente o que acontece naquele caso concreto é que
aqueles alunos pertencem à turma mas dadas as suas necessidades eles não
convivem com os alunos daquela turma. Portanto é muito mais uma questão
administrativa do que outra”.
Não Senhor Ministro, a qualidade
da educação de todos os alunos, incluindo, evidentemente, os alunos com
necessidades educativas especiais ou em situação de vulnerabilidade ou
fragilidade não é uma questão administrativa que se decida burocraticamente lá
longe da vida deles, dos professores e das famílias. É uma questão de direitos e competência.
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