Quando eu era miúdo e como muitas
vezes acontecia com connosco, se estávamos onde não devíamos logo algum adulto
soltava um "ponham-se a mexer daqui" e nós ... púnhamo-nos a mexer
dali, quase sempre a contragosto.
Mais recentemente e com a
emergência da preocupação com os estilos de vida saudáveis, entrou no léxico
uma outra referência à ideia de movimento, "pela sua saúde, mexa-se"
e muita gente se mexe pela rua ou pelos ginásios à procura de melhor qualidade
de vida.
Entretanto e nos últimos tempos
surgiu a mais curiosa das utilizações da ideia de movimento, isto é, uma figura
inventada pela administração pública que retoma o discurso dos adultos do meu
tempo mas em vez de soltar um assertivo "ponham-se a mexer daqui",
cria um sistema de mobilidade especial, uma figura curiosa para colocar os
funcionários descartáveis em movimento, isto é, a “mexer dali”.
Agora, num esforço de
modernização e em nome do ambiente, o Governo lança um “upgrade” ao sistema de
mobilidade dos funcionários da administração, quer que andem de bicicleta.
Parece uma ideia interessante,
depois de tornar descartáveis milhares de funcionários, de cortar até ao limite
nos seus rendimentos, preocupa-se com o ambiente e com a saúde dos funcionários
propondo que pedalem.
Depois da proposta de que os
miúdos se desloquem para as escolas de bicicleta chega a vez dos funcionários
da administração.
A capacidade visionária do Governo
é uma fonte inesgotável de perplexidade. Já podemos antecipar as múltiplas
ciclovias das nossas cidades vilas e as cuidadas, largas, bem iluminadas e
seguras bermas das nossas estradas inundadas de bicicletas com crianças e adolescentes
a caminho das escolas e os funcionários públicos a caminho dos seus serviços. O
que se poupa em combustível para as famílias, em custos dos transportes
escolares para as autarquias e, mais importante claro, os benefícios para a
saúde de todos os novos ciclistas justifica a medida.
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