quinta-feira, 9 de julho de 2015

DOS RESULTADOS DOS EXAMES NO 9º ANO

É ainda de considerar que em Português 77% dos alunos atingiram, pele menos, os 50% e em Matemática apenas metade dos alunos atingiu uma nota positiva.
Constatou-se também “uma elevada proximidade” entre estes resultados e os da avaliação interna.
Duas notas breves, começando pela coerência verificada entre a avaliação interna e avaliação externa. Como é sabido o MEC premeia os bons resultados tal como premeia esta “proximidade” pelo que as escolas vão fazendo um esforço que se reflicta nessa proximidade. Neste contexto, mas não só por isto, está a verificar-se um aumento das retenções em anos sem exame, os que não correspondem a final de ciclo, possibilitando que para exame se apresentem os alunos mais bem preparados. Veremos os resultados deste ano quando se conhecerem os dados da retenção, conjugando de forma ponderada os resultados dos exames com os da avaliação interna.
Quanto ao resultado dos exames, a expectativa não confirmada de melhores resultados, sobretudo a Matemática, decorria do grau de dificuldade percebido na análise das provas uma matéria em permanente discussão. Por todas razões que muitas vezes aqui tenho apresentado seria desejável que a avaliação externa fosse da responsabilidade de uma entidade verdadeiramente externa ao MEC, o que não acontece com o IAVE.
A regulação da qualidade do trabalho de alunos e professores promove-se evidentemente com dispositivos de avaliação, nenhuma dúvida sobre isso.
No entanto, a verificação de que os resultados, cito o comunicado do MEC, mostram “a existência de uma percentagem elevada de alunos com dificuldades significativas” em duas disciplinas “estruturantes”, merece alguma reflexão.
Como muitas vezes tenho afirmado, estruturar dispositivos de avaliação externa, sobrevalorizar a sua existência e torná-los, pelos discursos e pelas orientações, no tudo da vida das escolas, dos professores e dos alunos não é suficiente para melhorar o trajecto escolar dos alunos.
Esperar pelos efeitos dos exames na aprendizagem, só porque existem ... só no pensamento mágico de Nuno Crato. Aliás, o próprio Presidente do IAVE reconheceu em entrevista recente que os exames não se estão a ter efeitos na melhoria das aprendizagens.
Na verdade, para além do que se faz em matéria de avaliação, imprescindível repito, importa considerar a necessidade de que as escolas possuam meios e recursos qualificados para apoiar as dificuldades de alunos e professores. Um exemplo que a experiência e investigação suportam será o recurso a parcerias pedagógicas, dispositivo com designações variadas. Estes apoios devem ser disponibilizados o mais cedo possível, logo na detecção de eventuais problemas e durante todos os anos de cada ciclo não privilegiando os anos com exame ou as aulas de compensação em final de ciclo.
Importa considerar e analisar o peso que nas aprendizagens tem o modelo de currículos em vigor, extensos, prescritivos assentes num excessivo número metas curriculares que criam grande constrangimento aos professores para acomodar as diferenças entre os alunos, a característica mais óbvia de qualquer sala de aula actual.
Será também necessário incrementar a possibilidade para promover diferenciação no trabalho dos professores, com menos alunos por turma por exemplo, aumentar a diferenciação de percursos mas procurando evitar a ideia de que existem trajectos de primeira para os melhores alunos e trajectos de segunda para os menos dotados ou “sem jeito para a escola”.
Finalmente, será necessário que se definam políticas educativas que sustentem um quadro normativo desburocratizado, descentralizado e coerente que promovam modelos adequados de organização e funcionamento das escolas num quadro real de autonomia, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
Do meu ponto de vista, continuar a esperar que a avaliação externa, só por existir, produza resultados … é pouco, aparentemente será mais barato mas a prazo tornar-se-á muito mais caro.

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