É ainda de considerar que em
Português 77% dos alunos atingiram, pele menos, os 50% e em Matemática apenas
metade dos alunos atingiu uma nota positiva.
Constatou-se também “uma elevada
proximidade” entre estes resultados e os da avaliação interna.
Duas notas breves, começando pela
coerência verificada entre a avaliação interna e avaliação externa. Como é
sabido o MEC premeia os bons resultados tal como premeia esta “proximidade” pelo que as escolas vão fazendo um
esforço que se reflicta nessa proximidade. Neste
contexto, mas não só por isto, está a verificar-se um aumento das retenções em
anos sem exame, os que não correspondem a final de ciclo, possibilitando que para
exame se apresentem os alunos mais bem preparados. Veremos os resultados deste
ano quando se conhecerem os dados da retenção, conjugando de forma ponderada os
resultados dos exames com os da avaliação interna.
Quanto ao resultado dos exames, a
expectativa não confirmada de melhores resultados, sobretudo a Matemática,
decorria do grau de dificuldade percebido na análise das provas uma matéria em
permanente discussão. Por todas razões que muitas vezes aqui tenho apresentado
seria desejável que a avaliação externa fosse da responsabilidade de uma
entidade verdadeiramente externa ao MEC, o que não acontece com o IAVE.
A regulação da qualidade do trabalho
de alunos e professores promove-se evidentemente com dispositivos de avaliação,
nenhuma dúvida sobre isso.
No entanto, a verificação de que
os resultados, cito o comunicado do MEC, mostram “a existência de uma
percentagem elevada de alunos com dificuldades significativas” em duas
disciplinas “estruturantes”, merece alguma reflexão.
Como muitas vezes tenho afirmado,
estruturar dispositivos de avaliação externa, sobrevalorizar a sua existência e
torná-los, pelos discursos e pelas orientações, no tudo da vida das escolas,
dos professores e dos alunos não é suficiente para melhorar o trajecto escolar
dos alunos.
Esperar pelos efeitos dos exames
na aprendizagem, só porque existem ... só no pensamento mágico de Nuno Crato.
Aliás, o próprio Presidente do IAVE reconheceu em entrevista recente que os exames
não se estão a ter efeitos na melhoria das aprendizagens.
Na verdade, para além do que se
faz em matéria de avaliação, imprescindível repito, importa considerar a
necessidade de que as escolas possuam meios e recursos qualificados para apoiar
as dificuldades de alunos e professores. Um exemplo que a experiência e
investigação suportam será o recurso a parcerias pedagógicas, dispositivo com
designações variadas. Estes apoios devem ser disponibilizados o mais cedo
possível, logo na detecção de eventuais problemas e durante todos os anos de
cada ciclo não privilegiando os anos com exame ou as aulas de compensação em
final de ciclo.
Importa considerar e analisar o
peso que nas aprendizagens tem o modelo de currículos em vigor, extensos,
prescritivos assentes num excessivo número metas curriculares que criam grande
constrangimento aos professores para acomodar as diferenças entre os alunos, a
característica mais óbvia de qualquer sala de aula actual.
Será também necessário
incrementar a possibilidade para promover diferenciação no trabalho dos
professores, com menos alunos por turma por exemplo, aumentar a diferenciação
de percursos mas procurando evitar a ideia de que existem trajectos de primeira
para os melhores alunos e trajectos de segunda para os menos dotados ou “sem
jeito para a escola”.
Finalmente, será necessário que
se definam políticas educativas que sustentem um quadro normativo desburocratizado,
descentralizado e coerente que promovam modelos adequados de organização e
funcionamento das escolas num quadro real de autonomia, com a definição de
objectivos de curto e médio prazo, etc.
Do meu ponto de vista, continuar
a esperar que a avaliação externa, só por existir, produza resultados … é
pouco, aparentemente será mais barato mas a prazo tornar-se-á muito mais caro.
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