domingo, 5 de julho de 2015

GREGAS CURIOSIDADES

Acho curioso que gente como Dijsselboem, Lagarde ou personagens menores como Passos Coelho acusem o Governo Grego de radicalismos ideológico.
Acho curioso que se culpe o actual Governo grego da situação da Grécia quando ela foi construída durante décadas com lideranças políticas "amigas" da Europa, compostas por gente não "radical", e foi também construída com a prestimosa generosidade e cumplicidade da banca internacional.
Acho curioso que o recurso ao referendo para uma decisão de tão grande significado para os gregos seja considerado como algo não democrata pelos donos da "democracia europeia". Têm um entendimento da democracia como sendo de "geometria variável" como agora se diz. Aliás, é ver o argumentário de textos de figurinhas mais pequenas como os opinadores José Manuel Fernandes no Observador ou Henrique Monteiro no Expresso que diabolizam o referendo.
Acho curiosos os discursos e as ameaças que pretendem assustar e punir quem não pense ou não decida como o diktat europeu ordena, em nome da democracia, claro.
Acho curioso que exista gente que fale recorrentemente de soberania e critique, justamente, o exercício da soberania por parte dos gregos.
Acho ainda curiosa a forma despudorada como as elites políticas internacionais fazem campanha pelo "Sim" em nome do respeito pelo bem estar dos gregos.
Acho ainda curiosos alguns discursos que por cá se ouvem e que se podem traduzir no enunciado "a gente sofreu e os gregos não querem sofre". Pois, parece que os gregos não querem sofrer como nós sofremos com bons resultados na vida das pessoas, sim das pessoas, não dos mercados, que ainda estão por provar. 
Bom, na verdade, nada disto é curioso, é mesmo a Europa que temos. Está entregue a uma geração de tecnocratas políticamente medíocres, que de pessoas sabe nada, que de mercados também não sabe mas obedece a quem sabe em troca de uns lugarzinhos em que aparentemente decidem e se julgam donos da Europa, da História.
Na verdade, este também será um discurso de um radical ideológico que tem apenas uma enorme tranquilidade de olhar para estas coisas sem qualquer tipo de cartão ou fidelidade a não ser ao que, mal ou bem, julga ser o bem comum.
É por isso que me sinto tão inquieto.

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