quarta-feira, 15 de julho de 2015

DOS TEMPOS LIVRES DE MIÚDOS SEM TEMPOS LIVRES

Desta vez, estamos em período de férias escolares, deixo-vos uma micro-história com Tempos Livres e miúdos sem tempos livres.
Era uma vez uma mãe que estava muito aborrecida com o Atelier de Tempos Livres em que o filho, gaiato de uns 10 anos, passa boa parte das férias, porque os técnicos responsáveis "dão poucas actividades às crianças e depois elas põem-se a brincar umas com as outras". Fim da história.
É inquietante perceber alguma visão que, de mansinho, se foi instalando também em muitos pais.
De facto, os discursos e as orientações que se aceitam com "certas" vão criando, também nos pais, a ideia de que os tempos não são de brincar.
Os tempos são de trabalhar, muito, em nome da competitividade e da produtividade, condição para a felicidade, dizem. Vai sendo roubado aos miúdos o tempo e o espaço que nós tínhamos e empregam-nos horas sem fim nas fábricas de pessoas, escolas, chamam-lhes. Aí os miúdos trabalham a sério, a tempo inteiro, dizem, pois só assim serão grandes a sério, dizem também.
Às vezes, alguns miúdos ainda brincam de forma escondida, é que brincar passou a uma actividade quase clandestina que só pais ou professores “românticos”, “facilitistas”, “eduqueses” ou “incompetentes” acham importante.
Mesmo quando os miúdos vão para umas coisas a que chamam “tempos livres”, que de livres têm pouco, onde, frequentemente, se confunde brincar com entreter e, outras vezes, acontece a continuação do trabalho que se faz na fábrica de pessoas, a escola. Quando assim não é, felizmente existem muitos espaços em que não é assim, os pais reagem como vimos.
Também são encaixados em dezenas de actividades fantásticas, com nomes fantásticos, que promovem competências fantásticas e fazem um bem fantástico a tudo e mais alguma coisa. 
Era bom escutar os miúdos. Se perguntarem aos miúdos, vão ficar a saber que brincar é a actividade mais séria que eles fazem, em que põem tudo o que são, sendo ainda a base de tudo o que virão a ser. 

3 comentários:

Anónimo disse...

NO comment

https://www.youtube.com/watch?v=G99Xyj-EVvo

António Duarte disse...

Tristes tempos, estes, em que a brincadeira das crianças parece ter-se tornado uma actividade subversiva.

Em contrapartida, infantilizam-se os adolescentes e os adultos jovens, para os quais a sociedade consumista vai inventando cada vez mais numerosos e mais caros brinquedos.

A conclusão é inteiramente verdadeira, brincar é mesmo a coisa mais séria e importante que as crianças podem fazer.

Partilhei e comentei no meu blogue: https://escolapt.wordpress.com/2015/07/16/perigo-criancas-a-brincar-umas-com-as-outras/

Zé Morgado disse...

Temos que insistir, António. Os miúdos precisam.