Desta vez, estamos em período de férias escolares, deixo-vos uma micro-história com Tempos Livres e miúdos sem tempos livres.
Era uma vez uma mãe que estava muito aborrecida com o Atelier de Tempos Livres em que o filho, gaiato de uns 10 anos, passa boa parte das férias, porque os técnicos responsáveis "dão poucas actividades às crianças e depois elas põem-se a brincar umas com as outras". Fim da história.
É inquietante perceber alguma visão que, de mansinho, se foi instalando também em muitos pais.
De facto, os discursos e as orientações que se aceitam com "certas" vão criando, também nos pais,
a ideia de que os tempos não são de brincar.
Os tempos são de trabalhar, muito, em nome da
competitividade e da produtividade, condição para a felicidade, dizem. Vai
sendo roubado aos miúdos o tempo e o espaço que nós tínhamos e empregam-nos
horas sem fim nas fábricas de pessoas, escolas, chamam-lhes. Aí os miúdos
trabalham a sério, a tempo inteiro, dizem, pois só assim serão grandes a sério,
dizem também.
Às vezes, alguns miúdos ainda brincam de forma escondida, é
que brincar passou a uma actividade quase clandestina que só pais ou
professores “românticos”, “facilitistas”, “eduqueses” ou “incompetentes” acham
importante.
Mesmo quando os miúdos vão para umas coisas a que chamam
“tempos livres”, que de livres têm pouco, onde, frequentemente, se confunde
brincar com entreter e, outras vezes, acontece a continuação do trabalho que se
faz na fábrica de pessoas, a escola. Quando assim não é, felizmente existem muitos espaços em que não é assim, os pais reagem como vimos.
Também são encaixados em dezenas de actividades fantásticas,
com nomes fantásticos, que promovem competências fantásticas e fazem um bem
fantástico a tudo e mais alguma coisa.
Era bom escutar os miúdos. Se perguntarem aos miúdos, vão
ficar a saber que brincar é a actividade mais séria que eles fazem, em que põem
tudo o que são, sendo ainda a base de tudo o que virão a ser.
3 comentários:
NO comment
https://www.youtube.com/watch?v=G99Xyj-EVvo
Tristes tempos, estes, em que a brincadeira das crianças parece ter-se tornado uma actividade subversiva.
Em contrapartida, infantilizam-se os adolescentes e os adultos jovens, para os quais a sociedade consumista vai inventando cada vez mais numerosos e mais caros brinquedos.
A conclusão é inteiramente verdadeira, brincar é mesmo a coisa mais séria e importante que as crianças podem fazer.
Partilhei e comentei no meu blogue: https://escolapt.wordpress.com/2015/07/16/perigo-criancas-a-brincar-umas-com-as-outras/
Temos que insistir, António. Os miúdos precisam.
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