No seu texto no Observador o opinador Alexandre Homem Cristo aborda a questão dos exames partindo de uma posição crítica. A sua posição assenta no entendimento de que o problema central é, os exames “estão completamente desfasados das necessidades de aprendizagem dos
alunos”.
O opinador explica porquê. Em
síntese, “os professores/directores não os usam para melhorar as aprendizagens"
e, sublinha, “porque o modelo de exame nacional português consiste em executar
e replicar conhecimentos aprendidos de cor, em vez de estimular o pensamento
crítico e o raciocínio”.
Do meu ponto de vista a opinião
de Alexandre Homem Cristo a que parece fácil aderir assenta um lamentável, nada inocente e enorme equívoco, entende que a responsabilidade maior é das escolas e dos professores.
Primeiro, porque não usam os
resultados para melhorar as aprendizagens dos alunos e, segundo, porque os
exames são feitos para responder à forma como, na sua opinião, os professores
decidem ensinar, estimulando a memória “em vez de estimular o pensamento
crítico e o raciocínio”.
Como algumas pessoas lêem a mesma
cartilha esta opinião vai no mesmo sentido das afirmações do Presidente do IAVE
em entrevista recente que afirmou que os exames não estão a ter impacto nas
aprendizagens porque as práticas dos professores e das escolas não são as mais
adequadas.
Acontece, que sem esquecer,
evidentemente, as responsabilidades dos professores e escolas, boa parte do seu
trabalho é determinado por dimensões que lhes são exteriores e que decorrem das
políticas educativas, da visão de educação e de escola dos sucessivos governos
e das equipas que vão passando pela 5 de Outubro.
Os exames são construídos pelo
IAVE, não pelas escolas e os professores, assentam em currículos extensos,
prescritivos com metas curriculares sem fim que “determinam” significativamente
as escolhas didácticas e pedagógicas por parte dos professores.
Com a situação
criada e as consequências da avaliação externa sobrevalorizada, os docentes sentem-se “obrigados” a preparar os alunos o melhor
possível, com turmas enormes e muitas turmas, sem apoios, para responder a um
exame que passa a ser o tudo na vida de alunos e professores e que é coerente com os modelos de currículo e com a visão de educação e de
escola que está a implantar-se.
As políticas educativas,
inscritas nas políticas globais evidentemente, é que têm criado esta visão de
educação, de escola, virada quase que exclusivamente para resultados, competitiva,
centrada na medida e normalizadora.
A examocracia não foi criada
pelas escolas e pelos professores é uma opção política, legítima mas
discutível, profundamente discutível. Não porque os exames não sejam
necessários mas porque precisamos de reflectir sobre qual a sua função, que enquadramento,
que calendário, em anos de escolaridade, etc.
No entanto, sublinho, antes é
necessário saber que educação queremos, que escola e educação públicas
queremos.
3 comentários:
Caro José Morgado,
Agradeço-lhe a leitura e o comentário crítico ao meu artigo no Observador. Permita-me apenas uma nota de esclarecimento perante a sua crítica, que caricaturiza o conteúdo do meu artigo de opinião no que ao modelo de exame diz respeito. É que, ao contrário do que escreve, eu não responsabilizo os professores ou as escolas por decidirem «ensinar, estimulando a memória “em vez de estimular o pensamento crítico e o raciocínio”». A minha crítica às escolas é apenas no sentido de não se utilizar adequadamente os exames como um instrumento de diagnóstico de dificuldades dos alunos no sentido da melhoria das aprendizagens, o que de resto é uma crítica que o presidente do IAVE também fez.
Quanto ao resto, ou seja o próprio modelo de exame, obviamente que a responsabilidade é do Ministério da Educação, pois trata-se de uma opção estratégica ter exames que testam mais a memória ou a resolução de problemas. Nunca escrevi o contrário. Tal como é óbvio que o modelo de exame impõe sobre os professores um modelo de aprendizagem e de dar as aulas, o que é perfeitamente normal, porque o modelo de avaliação é esse e compete aos professores preparar os alunos. É, aliás, o que escrevi: "É inquestionável que os exames determinam o modo como as aprendizagens são adquiridas, porque estabelecem o padrão de avaliação que se traduzirá em sucesso ou insucesso."
Ou seja, a responsabilidade por essa opção estratégica é única e exclusivamente do Ministério da Educação, nunca dos professores, pelo que as críticas que o José Morgado dirige ao meu artigo não têm qualquer relação com o que escrevi ou com a minha opinião.
Cumprimentos,
AHC
Olá caro Alexandre Homem Cristo,
Agradeço-lhe também a gentileza do comentário ao comentário. Estando em acordo com parte da sua leitura sobre o modelo de exame continuo a entender que a formulação "Por duas razões: porque os professores/directores não os usam para melhorar as aprendizagens e, sobretudo, porque o modelo de exame nacional português consiste em executar e replicar conhecimentos aprendidos de cor, em vez de estimular o pensamento crítico e o raciocínio." se presta a ser entendida como responsabilizando professores e directores.
Primeiro, porque não usam os resultados dos exames. A organização e funcionamento das escolas, o modelo de currículo, o número de alunos por turma em muitas escolas, os insuficientes dispositivos de apoio a alunos e professores, entre outras razões, não são, por assim dizer, amigáveis no sentido de acomodar a diferenciação do trabalho em sala de aula que a utilização dos resultados dos exames para "melhorar as parendizagens" exigiria.
Segundo, quando refere "aprendidos de cor" entendo que se os alunos "aprendem de cor" tal estará necessariamente ligado às opções didácticas e pedagógicas dos professores.
Sem querer minimizar a evidente responsabilidade dos professores nestes processos creio que, como diz e aí concordamos, existe uma evidente responsabilidade do MEC pois acredita que os exames, só por existirem, melhoram os resultados (as aprendizagenas), o que não se verifica. Disto não se deve concluir, é a minha posição, que os exames não devam existir, são imprescindíveis como ferramente de regulação, embora, do meu ponto de vista, discutíveis no 1º ciclo para mais com impacto no trajecto dos alunos, situação quase inexistente na Europa.
É sempre interessante o debate, ajuda a pensar.
Caro José Morgado,
Obrigado pela sua resposta. Compreendo a sua posição. E é como diz, o debate é sempre interessante, porque o que ajuda a pensar é também o que nos faz avançar.
Cumprimentos,
AHC
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