Também gostei bastante de ler estes textos de António Guerreiro e havia muito mais de tenebroso a acrescentar às suas lúcidas reflexões.
Fico-me apenas pela partilha de uma experiência que, infelizmente, suspeito venha a repetir-se com muitos jovens este ano: fui aluna do primeiro 12º ano que existiu em Portugal, há 35 anos, tendo frequentado a disciplina de Literatura Portuguesa (uma de três), também com exame nacional no fim do ano. Esse ano letivo foi conturbado, a escola pré-fabricada à pressa que me coube frequentar (escola secundária da cidade universitária, em Lisboa) tardou muito a ficar pronta, as aulas de apresentação foram dadas com toda a gente em pé, os manuais eram umas sebentas manhosas do ministério da educação, enfim, o típico experimentalismo português no seu esplendor. (parece "karma"!) Passei todo o ano sem me ser exigido que lesse uma só linha de Sophia de Mello Breyner, mas o exame foi quase todo sobre esta autora. Para o resolver, socorri-me da minha capacidade de interpretação, de relacionação e inferência, e de produção escrita, que sempre foram as minhas áreas fortes. (fui a exame com classificação final de 18 valores nesta disciplina, sem favor nenhum, devo dizer, e que me perdoe a falta de modéstia!) Apenas consegui ter 12 valores no exame, acabando por ser uma felizarda, pois choveram negativas por todo o lado. No entanto, fiquei muito chocada com a situação, baixei a minha classificação/média e nunca consegui esquecer ou perdoar essa deslealdade. Agora, ao analisar a atual prova de 12º ano e os respetivos critérios de classificação, temo que venha a repetir-se a minha experiência pessoal com muitos alunos. Se é verdade que a autora fez parte do programa de 10º ano destes alunos, a pergunta e o cenário de resposta apresentados são absolutamente controversos. Pode ser que o facto de a resposta esperada constar apenas de uma "VERSÃO DE TRABALHO", conforme inscrição em todos os critérios de classificação este ano, venha a tornar a versão final mais abrangente e menos penalizadora, sobretudo para os bons alunos. O que mais me perturba é que, 35 anos depois, o experimentalismo continua a ser o prato forte na Educação, inclusive na questão dos exames. Até o programa de 10º ano que estes alunos seguiram há dois anos já foi revogado... mas saiu em exame!
(Estou envolvida no processo de classificação de provas, portanto não devo fazer mais comentários sobre o tema).
2 comentários:
Também gostei bastante de ler estes textos de António Guerreiro e havia muito mais de tenebroso a acrescentar às suas lúcidas reflexões.
Fico-me apenas pela partilha de uma experiência que, infelizmente, suspeito venha a repetir-se com muitos jovens este ano: fui aluna do primeiro 12º ano que existiu em Portugal, há 35 anos, tendo frequentado a disciplina de Literatura Portuguesa (uma de três), também com exame nacional no fim do ano.
Esse ano letivo foi conturbado, a escola pré-fabricada à pressa que me coube frequentar (escola secundária da cidade universitária, em Lisboa) tardou muito a ficar pronta, as aulas de apresentação foram dadas com toda a gente em pé, os manuais eram umas sebentas manhosas do ministério da educação, enfim, o típico experimentalismo português no seu esplendor.
(parece "karma"!)
Passei todo o ano sem me ser exigido que lesse uma só linha de Sophia de Mello Breyner, mas o exame foi quase todo sobre esta autora. Para o resolver, socorri-me da minha capacidade de interpretação, de relacionação e inferência, e de produção escrita, que sempre foram as minhas áreas fortes. (fui a exame com classificação final de 18 valores nesta disciplina, sem favor nenhum, devo dizer, e que me perdoe a falta de modéstia!) Apenas consegui ter 12 valores no exame, acabando por ser uma felizarda, pois choveram negativas por todo o lado. No entanto, fiquei muito chocada com a situação, baixei a minha classificação/média e nunca consegui esquecer ou perdoar essa deslealdade.
Agora, ao analisar a atual prova de 12º ano e os respetivos critérios de classificação, temo que venha a repetir-se a minha experiência pessoal com muitos alunos.
Se é verdade que a autora fez parte do programa de 10º ano destes alunos, a pergunta e o cenário de resposta apresentados são absolutamente controversos.
Pode ser que o facto de a resposta esperada constar apenas de uma "VERSÃO DE TRABALHO", conforme inscrição em todos os critérios de classificação este ano, venha a tornar a versão final mais abrangente e menos penalizadora, sobretudo para os bons alunos.
O que mais me perturba é que, 35 anos depois, o experimentalismo continua a ser o prato forte na Educação, inclusive na questão dos exames.
Até o programa de 10º ano que estes alunos seguiram há dois anos já foi revogado... mas saiu em exame!
(Estou envolvida no processo de classificação de provas, portanto não devo fazer mais comentários sobre o tema).
Em muitos aspectos, tal como a Ana refere, a educação anda à deriva e ao sabor de múltiplas agendas.
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