quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

E SE, POR UMA VEZ, O ANO NOVO FOSSE MESMO NOVO?

Vamos então mudar de ano. 
Estamos no tempo em que todas as falas e todos os escritos acabam num incontornável Bom Ano Novo. Muito de nós fazem mesmo questão de se preparar a sério para receberem o Ano Novo, de acordo com as posses de cada um, evidentemente. Aliás, o Ano que virá também virá de acordo com as posses de cada um . É sempre assim. E se não fosse?
E se por uma vez, só por uma vez, o Ano Novo fosse mesmo Novo. Por exemplo.
Ser Novo no respeito efectivo pela dignidade, pelos direitos básicos das pessoas e no combate às desigualdades e à exclusão e pobreza.
Ser Novo na gestão da coisa pública com transparência, justiça e ao serviço das pessoas.
Ser Novo na definição de políticas dirigidas às pessoas e não ao sabor dos endeusados mercados e da agenda da partidocracia.
Ser Novo no recentrar das grandes questões da educação na qualidade dos processos educativos, na tranquilidade e no sucesso do trabalho de alunos e professores.
Ser Novo na construção de uma escola onde coubessem todos os alunos sem que o cumprimento de direitos e a qualidade da resposta pública a  todos os que estão na idade de a frequentar pudesse, sequer, ser motivo de discussão.
Ser Novo no combate ao desperdício e à iniquidade de mordomias insustentáveis.
Ser Novo nos discursos e padrões éticos das lideranças políticas, económicas e sociais.
Ser mesmo Novo, estão a ver? 
De repente, ao escrever estas notas, lembrei-me do Zé, um jovem com uma deficiência motora significativa com quem me cruzei há anos, que quando falava de alguns dos seus desejos de futuro terminava sempre da mesma maneira, “sonhar? sonhar não custa nada, viver é que custa”. 
Que o Ano Novo vos (nos) seja leve.
Tão leve quanto possível.

HISTÓRIA DE ANO NOVO MUITO PEQUENINA E ATÉ UM BOCADO SEM JEITO

Há umas horas estava o escriba na farmácia, esperando a sua vez e ocupando um das duas cadeiras disponíveis. Ao lado senta-se um velho, agora parece que se chama sénior, que vinha encostado  a uma bengala, tal como o escriba.
O Velho saca de um envelope de receitas médicas e vai comentando comigo, O Ano vai Novo, mas isto é tudo velho, "este remédio faz-me falta, disse a doutora, Mas é caro. Este também me faz falta, disse a doutora, mas também é caro." E lá ia prosseguindo num exercício que iria acabar na difícil escolha sobre que medicação comprar, "a doutora disse que lhe fazia falta" e a medicação a que os seus rendimentos não permitem chegar mas que "a doutora também disse que fazia falta".
Entretanto fui chamado, comprei o que me fazia falta e tinha sido prescrito e o Velho lá ficou envolto nos seus dilemas de (sobre)vivência.
Deve ser a isto que chamam racionalidade no Estado Social, escolher a medicação que se toma não porque se precisa mas porque é aquela para que o dinheiro chega. Assim, dirão, (sobre)viveremos de acordo com as nossas disponibilidades. 
Há um pequeno pormenor, existe muita gente a viver abaixo das suas necessidades mas como sabem o País está melhor e os sacrifícios que Todos fizemos valeram a pena.
O Velho continua, como sempre, a fazer o sacrifício que lhe compete e e assim continuará a fazer até partir, aliviando, então, o orçamento da Segurança Social.
Que venha o Ano Novo, velho de sofrimento para tanta gente.

OS APOIOS À INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Farmacêuticas gastam 60 milhões com médicos

"Um só médico recebeu mais de 850 mil euros de uma farmacêutica este ano"

É já um bom exemplo da visão de Pires de Lima e de Nuno Crato no apoio das empresas à investigação científica nacional tornando, assim, menos necessário o investimento público em ciência e invstigação.
Estes homens são uns visionários incompreendidos.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

As MALHAS DO CHAMADO ENSINO ESPECIAL

"Há colégios de ensino especial que não abrem portas em Janeiro"

Como é sabido, as respostas que o sistema educativo e de segurança social têm estruturado para os alunos que revelam mais dificuldades é uma matéria que está em permanente discussão.
Discutem-se os princípios, educação inclusiva, por exemplo, tipologias de respostas, Unidades de Ensino Estruturado, por exemplo, população a incluir em cada tipo de resposta, o critério de elegibilidade, por exemplo, o papel das instituições de educação especial, complementar ou concorrencial, por exemplo, os modelos e financiamento dos apoios especializados, decididos por quem, por exemplo, a permanência nas escolas secundárias de alunos com mais de 15 anos que sejam abrangidos por uma aberração conceptual chamada CEI - Currículo Específico Individual, (ainda estou a tentar conseguir perceber como é que um currículo individual não será específico), levando a situações verdadeiramente inaceitáveis e lesivas dos direitos dos alunos., por exemplo. etc., etc., etc.
Apesar de muitas vezes aqui me ter referido a várias destas questões o espaço não permite uma reflexão global mas existe algo que não pode ser esquecido.
O MEC aceita como resposta para uma franja de alunos, quase sempre, mas nem sempre, os que mais dificuldades apresentam, a frequência de Estabelecimentos de Educação Especial. Não quero discutir aqui o modelo e os aspectos mais particulares desta resposta apenas uma nota de indignação poistrata-se, como é evidente de um grupo altamente vulnerável.
Quando o MEC estabelece um contrato de financiamento com estas instituições é OBRIGADO a cumpri-lo se for, algo que não é, uma pessoa de bem. Segundo a Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo os colégios de ensino especial, tal como os conservatórios do ensino artístico especializado ainda não receberam do Estado qualquer quantia referente aos serviços educativos, alimentação e transportes, prestados desde Setembro de 2014. Este universo envolve 8 instituições, 250 profissionais, mais de 700 alunos além, evidentemente, dos problemas sentidos pelas famílias. .
Como já disse, julgo que esta realidade pode e deve, ser repensada. Enquanto não o é, o Estado é obrigado a assumir o direito à educação e os direitos básicos das pessoas que não são de geometria variável, ou seja, quando existem uns eurozitos a mais, dá-se-lhes umas migalhas, quando não há … paciência.
Nada desta realidade, lamentavelmente, é novo para as pessoas envolvidas. Os técnicos, alunos e pais estão dramaticamente habituados a que sua voz não se oiça.

A voz das minorias é uma voz baixa Às vezes, em período de eleições, ouvem-se um pouco mais. Mas é Solde pouca dura e a dura realidade volta ao costume.

O EXAME DE INGLÊS, "KEY FOR SCHOOLS", AGAIN

Dando continuidade à sua relação mágica com os exames, Nuno Crato anunciou a continuidade do negócio, perdão, da colaboração com a prestigiada Universidade de Cambridge traduzida na realização do teste “Key for Schools” com tão bons indicadores como bem se lembram. Foram já estabelecidas as datas para a realização das provas que as escolas no exercício da sua ampla e reconhecida autonomia acomodarão.
A Prova continua obrigatória pra os alunos do 9º ano e facultativa para os do 2º e 3º ciclos do Básico,
Os alunos que a realizem podem continuar a aceder a um certificado que custa 25 € para os alunos “normais e 12.5€ para os mais pobrezinhos abrangidos pela ASE. Claro que estes pagamentos são exigidos dentro da escolaridade obrigatória, gratuita e universal mas o certificado foi considerado pelo IAVE uma "oportunidade única para obter um certificado reconhecido internacionalmente a um preço simbólico”, pois no mercado “o preço normal deste certificado é de cerca de 75/80 euros”. Parece que disseram isto sem se rir. Vejamos o resto,
O problema é que os resultados o ano passado foram, por assim dizer, fraquinhos, fraquinhos. De facto, 47% dos alunos do 9º que fizeram o teste obtiveram o nível A2 correspondente ao 7º ano e apenas 22.1% obteve o nível B1 o correspondente ao 9º ano. O MEC sempre genial nas suas decisões tinha antecipado as dificuldades dos alunos portugueses e precaveu-se realizando o exame com o nível A2, ou seja, mandou fazer um teste para alunos do 9º ano com um nível de dificuldade correspondente ao 7º ano que coloca o irrelevante pormenor do valor dos certificados. Mas continuemos.
A minha dúvida, coloquei-a na altura era, isto serve para quê? Continuo sem perceber a não ser que tudo isto representa uma excelente PPP, Parceria Público Privada que envolveu a altura, MEC, Universidade de Cambridge, Porto Editora, BPI, Connexall, Fundação Bissaya Barreto, Novabase e, evidentemente, os pais pagantes.
Entretanto preparem-se, o MEC acaba de anunciar que o teste deste ano é mesmo um teste a sério, vai ser mais difícil. Disse Nuno Crato e como sabem Nuno Crato nunca diz nada que não seja rigorosamente verdade.
Se os alunos do 9º tiveram dificuldades com testes ao nível do 7º, agora, com a enorme quantidade de professores que as escolas dispõem para apoio às dificuldades de alunos e professores, um início do ano realizado sem sobressaltos, a colocação no tempo certo de todos os professores, funcionários e técnicos, as notas do “Key for Schools” só podem ser  …. Outstanding, como gosta a FCT e como Crato exige.

PENSAMENTO DO DIA

O meu pai sempre me ensinou que na nossa vida devemos ser gente com espinha, se erramos asssumimos, se pensamos, defendemos, se temos razão, agimos. É asssim que deve ser, gente com espinha.
Por estes dias sinto uma inveja enorme da quantidade de invertebrados que conheço, de gente sem espinha.
Não andam certamente a passar pelas dores sem fim que vou tendo  na minha "espinha" que até ao Alentejo me proibiram de ir.
Essa gente que nunca tem problemas de coluna deve levar uma vida mais fácil. pelo menos, bem menos dolorosa.
E daqui a pouco, com a vosssa licença, lá vou para mais uma consulta que decidirá o que fazer com uma coluna que eu, ingénuo e convencido, julgava ter razoavelmente direita.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

ALBERTO JOÃO SÓ HÁ UM, O JARDIM E MAIS NENHUM

Esta afirmação foi produzida por Alberto João depois de ter votado nas eleições de hoje para a liderança do PSD-Madeira, quando ainda não se conheciam formalmente os resultados, mas estes eram claramente antecipados.
Ao que se lê na imprensa, Alberto João falou com um inabitual ar sério, parecendo profundamente convicto do que afirma.
Vamos poder viver sem o Alberto João, mas, decididamente, não é a mesma coisa.

ENTRE O NATAL E O ANO NOVO

Os dias que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, uma característica muito particular. Fico sempre com a sensação de que os vivemos como não dias. Parece uma ideia estranha, mas vou tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a recuperar do espírito natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da azáfama das prendas, dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos.
Deste estado, passamos para os dias de aproximação ao Ano Novo que, independentemente do que de menos bom possamos racionalmente esperar, vivemos com a esperança de que seja mesmo novo e, sobretudo, Bom.
Trocamos milhares de mensagens e votos noutra azáfama que parece assentar numa ideia mágica dos tempos de miúdo que nos parece fazer acreditar que se assim procedermos, o Ano Novo vai ser mesmo Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nele, ele vai convencer-se de que terá mesmo que ser assim.
É certo que de há uns tempos para cá, como devem ter dado por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja Bom, ou até mesmo que não seja pior do que este. Já era bem bom, por assim dizer.
É também muito provável que nos últimos dias do próximo Dezembro, o de 2015, estaremos com o mesmo sentimento a enunciar os mesmos discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa está a mudar..
Alguns de nós tentarão de forma mais ou menos dispendiosa ou criativa encontrar uma maneira feliz e divertida, assim a entendemos, de entrar em Janeiro, no Ano Novo, portanto. Pode até nem ser muito divertida mas vai parecer com toda a certeza. Este ano, dizem, a coisa vai ser mais comedida, efeitos da crise, é claro.
O problema mais sério é que a 2 de Janeiro está aí o Ano Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para muita outra gente não vai ser Bom, longe disso.

Mas para um povo sereno e de brandos costumes como nós, haja saúde, que é o principal, no resto, no resto, algum jeito se há-de dar.

BLÁ, BLÁ, BLÁ,

"Preços das telecomunicações sobem em Portugal, mas descem na UE"

A coesão europeia blá, blá, blá.
A solidariedade europeia blá, blá, blá.
A cooperação europeia blá, blá, blá.
O combate às assimetrias europeias blá, blá, blá.
Por uma Europa com preocupações sociais blá, blá, blá.
Lá diz o velho ditado "Fala que tem dinheiro, cala-se quem é pobre",blá, blá, blá.
Um Portugal na vanguarda tecnológica tem custos blá, blá, blá.
As comunicações com os nossos parceiros europeus têm custos blá, blá, blá.
blá, blá, blá.
blá, blá, blá.

QUEM SE PORTA BEM VAI PARA O PARAÍSO

"8% da riqueza mundial está em paraísos fiscais"

Quem se porta mal vai parar ao inferno. Muita gente para se ir habituando já vive no inferno.

"Tribunal de Contas “perdoou” desvio de 6,4 milhões para as contas dos partidos na Madeira"

Foi assim que nos ensinaram e e também nos ensinaram que devemos perdoar a quem nos possa fazer mal. E é  assim que se cumprem os dias no Portugal dos Pequeninos em que a partidocracia capturou a vida cívica Somos caridosos e amigos de perdoar ao nosso próximo. Nunca se sabe quando seremos nós os eleitos. Como é sabido, de quatro e quatro anos realiza-se a dança das cadeiras e pode haver um lugarzinho que o esforço feito na jota ou a colar cartazes veja recompensado.
Até quando?

HOJE A IMPRENSA É NOTÍCIA. PARABÉNS DN, CONTA MUITOS

"O Diário de Notícias faz 150 anos. Descubra 150 coisas que se escondem na Alma de Portugal"

Hoje a imprensa é notícia. O Diário de Notícias cumpre 150 anos, são muitos anos de presença diária num país.
É recorrente, não só em Portugal, a discussão da questão da sobrevivência da imprensa e, naturalmente, da sua independência face aos poderes, político e económico, designadamente. Sabemos das tentativas recorrentes de controlo político da imprensa, como também sabemos da eventual agenda implícita dos investimentos dos grupos e poderes económicos na imprensa, veja-se os investimentos angolanos na comunicação social em Portugal.
Por outro lado, a evolução do próprio mundo dos jornais, a evolução exponencial do universo do on-line, a conjuntura económica inibidora de gastos das famílias em bens “não essenciais” e, caso particular de Portugal, o baixo nível de hábitos de leitura e consumo da imprensa escrita, produzem dificuldades de sobrevivência de títulos de qualidade, chamados de referência, abrindo caminho à chamada imprensa tablóide que, apesar das oscilações, se mantém relativamente saudável, o que se entende. São também tablóides os tempos.
Como leitor de jornais desde muito novo, é sempre com inquietação que penso nestas questões e vou assistindo ao abaixamento das tiragens em papel, também do DN. Numa entrevista ao Público há já algum tempo, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, correr o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico". Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Quando escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da minha mochila. Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva, o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora, janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade que um regime espesso e fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal. Relembro o espaço que o Jornal de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público, um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar diariamente cá em casa na versão papel.
A imprescindível sobrevivência dos jornais, dos bons jornais, garante-se na escola, nos hábitos de leitura, na educação. Na cidadania.
Parabéns ao DN e que continue por muitos mais.


domingo, 28 de dezembro de 2014

A PARKER DE INHAMBANE

A leitura tardia de um texto no Público sobre as canetas que os políticos usam e em particular a referência à ligação de Paulo Portas às Parker e a referência de Ramalho Eanes também a três Parker herdadas do pai, em particular da Parker 61que tinha usado para dar posse ao I Governo Constitucional, em Julho de 76 e da qual acabou por “perder” o rasto, lembrei-me de uma história passada longe, muito longe daqui e que envolve uma Parker.
Já por várias vezes lhes falei das minhas deambulações pela terra da Boa Gente, Inhambane, em Moçambique, pois a história passou-se por lá.
Nas três semanas que lá passei, estive alojado numa casa ao cuidado de um anjo da guarda, o Sr. Bata, que zelava pelo meu bem-estar, aliás, a minha primeira dificuldade foi convencê-lo que conseguia ir trabalhar sem “matabichar” um bife com batatas fritas, salada e ovo às seis e trinta da manhã. Consegui, não sem alguma luta que o “mata-bicho” se transformasse em fruta e chá, embora ele não se mostrasse muito convencido de que aquilo era alimento suficiente para um XXL.
Mas a história de hoje remete para o hábito fantástico que o Sr. Bata tinha de encontrar expressões surpreendentes para demonstrar uma apreciação superlativa sobre qualquer coisa, por exemplo a sua velhice traduzia-se nas rugas bem vincadas que, dizia, significavam sabedoria, sendo que cada ruga era mais ou menos o saber de uma bíblia, dizia, com um sorriso de orelha a orelha.
Uma vez, logo no princípio da estadia, perguntei-lhe se sabia ler, respondeu, quase ofendido, que o fazia muito bem sendo mesmo capaz de fazer “até à última letra”.
Na mesma linha, perguntei-lhe se sabia escrever e a resposta foi ainda mais curiosa. O Sr. Bata com um enorme sorriso de orgulho disse-me, “escrevo tão bem como se fosse com uma Parker”. Fiquei surpreso e, por coincidência, tinha uma esferográfica Parker que fazia companhia a uma de tinta permanente, o meu utensílio de escrita habitual, pelo que lhe dei a esferográfica, para, finalmente, o Sr. Bata escrever com uma Parker e até à última letra.
Ainda me lembro dos olhos dele, parecia que olhava para algo de sagrado e, para meu espanto, levantou-se, estávamos de conversa na rua à noite, foi para a sala e pendurou a Parker num prego onde estava um “quadro” que tirou.
Enquanto lá estive e durante a correspondência que mantive com ele até o tempo o levar para um destino que não conheço, sempre me foi dizendo que a Parker lá continuava pendurada na parede para poder olhar para ela.

Despeço-me como ele sempre se despedia antes da deita, “tenham uma noite açucarada”.

"É PRECISO VIRAR AS SALAS DE AULA AO CONTRÁRIO"

“É preciso virar as salas de aula ao contrário”

É verdade que estamos na época natalícia e como tal com uma especial tolerância a milagres e a ouros fenómenos capazes de com um estalar de dedos mudar a realidade.
Vem esta estranha introdução a propósito da divulgação no insuspeito Observador do miraculoso trabalho de Salman Khan, fundador da Khan Academy, que já tem mais de 2000 vídeos no Youtube, vejam só 2000 vídeos, e “está a revolucionar a educação”, isso mesmo, a revolucionar a educação.
Estive a assistir a alguns dos vídeos, dois mil é demais, apesar de estar com algum tempo a minha dor ciática impede-me a concentração mas, confesso, não fui tocado, não senti o chamamento do milagre.
Vislumbrei um conjunto de formas e de trabalho e de ideias, fortemente apoiadas nas novas tecnologias com o seu sedutor efeito, que a generalidade dos professores, DESDE QUE TENHA CONDIÇÕES RAZOÁVEIS DE TRABALHO, conhece e utiliza de forma bem sucedida, sendo que de inovação vi pouco, embora sublinhe algo que me é caro, por princípio, o chamado trabalho de casa, deveria ser realizado na escola e o tempo de casa usado com outro tipo de tarefas que também serão úteis pata a escola.
À excepção de meia dúzia de “sound bites” diria sem recorrer a trocadilhos fáceis que a montanha pariu outro (C)rato. E vi uma mega produção de forte impacto mediático e com boa imprensa com alguns produtos sem dúvida interessantes, sem dúvida, mas sem propriedades mágicas.
Na verdade, é já o segundo iluminado que em pouco tempo queria revolucionar a educação. Se bem se lembram, há algum tempo Nuno Crato afirmou que se fosse Ministro implodia o Ministério da Educação e com a generalização dos exames chegaria a panaceia para a educação portuguesa. Salman Khan apenas acha “que é preciso virar as salas de aula ao contrário”, tarefa reconhecidamente mais simples nos nossos territórios educativos em que muitas das nossas escolas já estão no bom caminho, em milhares delas faltaram professores durante quase dois meses.
A revolução provocada por Crato está à vista.
Aguardemos pelo milagre revolucionário de Salman Khan que está apoiado pelo mecenato da Fundação Portugal Telecom.
Eu sou um agnóstico empedernido, mas estou disponível para a acreditar.
A sério que estou.

ESTUDAR É CARO, PIRA-TE E ESTUDA LÁ FORA

"Jovens portugueses emigram para estudar sem pagar propinas"

Gostava de vos chamar a atenção para um trabalho do DN sobre uma matéria que raramente é abordada e quando acontece, quase sempre é objecto de alguns equívocos, as propinas universitárias pagas em Portugal e noutros países.
Está a verificar-se que milhares de jovens portugueses estão emigrar para realizar os seus estudos superiores em países em que as propinas são mais baratas que em Portugal, não existem de todo ou são financiadas. Citam-se como exemplos os casos da Dinamarca, Reino Unido ou o Canadá e a Austrália fora da Europa.
Dado o recente episódio sobre as disparatadas afirmações de Angela Merkel sobre os licenciados a mais que Portugal apresentará, vale a pena recordar algo que nem todos saberão também. Na Alemanha não existem propinas nas universidades. Há uns meses, a Baixa Saxónia foi o último estado alemão a abolir as propinas. Deixem-me partilhar a afirmação da Ministra da Ciência e da Cultura deste estado que justificou a decisão de tornar gratuito a frequência do ensino superior “Livramo-nos das propinas porque não queremos que o Ensino Superior dependa da riqueza dos pais”. Elucidativo da forma como é vista a qualificação de nível superior.
Mais algumas notas. Segundo o Relatório "Sistemas Nacionais de Propinas no Ensino Superior Europeu", divulgado em Outubro pela Comissão Europeia, Portugal é um dos cinco países, entre os 28 Estados membros da União Europeia, que cobram propinas a todos os alunos do ensino superior. Integra também o grupo de países em que menos de metade acede a bolsas de estudo.
Recordo que no início do ano um estudo patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa revelava, sem surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os pagar. É também preocupante o abaixamento que se tem vindo a verificar de procura de ensino superior apesar deste ano se ter registado uma pequena subida. As dificuldades económicas são a principal razão para não continuar.
É ainda de relembrar que de acordo com o Relatório da OCDE, Education at a glance 2013, Portugal é um dos países europeus em que a frequência de ensino superior mais depende do financiamento das famílias, cerca de 31% dos gastos de universidades e politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da União Europeia, 23,6%.
Como a atribuição de apoios sociais a estudantes em dificuldades aos estudos tem sido revista em baixa é fácil perceber a opção de muito jovens portugueses que, dificilmente, voltarão a Portugal de depois de terminada a sua formação inicial pois as possibilidades de formação pós-graduada são também, como sabemos, bastante mais acessíveis e diversificados na diversidade e na qualidade.
Este cenário mostra algo de verdadeiramente preocupante e ao mesmo tempo mostra quanto alienada da realidade anda alguma rapaziada como o “Jota Presidente” do PSD, Simão Ribeiro, que afirmava há dias para chefe ouvir e registar, claro, que não foi Passos Coelho quem “mandou os jovens emigrar”, quando todos nos lembramos das palavras de Passos Coelho e do facilitador, o “Dr.” Relvas.
A qualificação é a melhor forma de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um bem caro é imprescindível.
No entanto, os tempos que atravessamos e o vento que sopra da 5 de Outubro não parecem muito amigáveis.
Este país não consegue ser para velhos e também manda embora os outros cada vez mais novos.

QUEM PARTE E REPARTE ...

E NÃO FICA COM A MELHOR PARTE, OU É TOLO OU NÃO TEM ARTE.
ESTA GENTE É UMA CAMBADA DE ARTISTAS

Rendimento salarial caiu de 65,5% do rendimento disponível para 62,4%. Já a remuneração do capital subiu para 36,4%

Troika tira 5800 milhões ao trabalho e dá 4400 milhões ao capital


Portas, Passos e Albuquerque
Mário Cruz/Lusa
27/12/2014 | 00:01 |  Dinheiro Vivo

O período do programa de ajustamento da troika e do Governo é marcado por uma transferência de grandes proporções dos rendimentos do trabalho para os do capital, indicam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) publicados esta semana. As famílias portuguesas estão mais capitalistas, por assim dizer

sábado, 27 de dezembro de 2014

NA FALTA DO PÃO QUE NÃO NOS FALTE O CIRCO

"Organismos já gastaram quase 6 milhões nas festas de Natal e fim de ano"
Segundo os dados publicados até 23 de Dezembro no Portal Base dos contratos públicos, cento e oito organismos públicos já tinham gasto 5,9 milhões de euros na aquisição de bens e serviços para festas de Natal e Ano Novo que envolvem imprescindíveis actividades como despesas de iluminação, cabazes, ofertas, jantares e festas de Natal, fogo-de-artifício e espectáculos, entre outros bens ou serviços.
Sem surpresa, a tradição ainda é o que era, a Madeira lidera a tabela de gastos e o montante já contratado até aquela data é superior em 2,3 milhões (63,6%) face ao montante do ano anterior que também já tinha subido face a 2012.
Sempre assim foi, sempre assim será, na falta do pão pois que não nos falte o circo.
Bem hajam.

VIDAS PRECÁRIAS

"Um em cada 4 trabalhadores dos hipers é temporário"


Como é sabido, os gurus do neoliberalês entendem a que a flexibilidade do mercado de trabalho é uma das peças fundamentais para o desenvolvimento económico.
Acontece que a precária de vida paga em migalhas que a maior parte da gente nova por cá vai arrranjando, em alternativa ao desemprego ou à partida para longe, impede projectos de vida viáveis, com potencial de realização pessoal, com horizontes razoáveis, que possam incluir projectos de maternidade ou paternidade necessários num país que atravessa um profundo inverno demográfico. Inibe a criação de condições de autonomia e independência face às gerações dos seus pais que tambêm têm os seus rendimentos ameaçados, Tudo para eles é precário
Mas .... é a economia, estúpido.
Parece que o desenvolvimento se consegue assim, com precariedade, dizem os cérebros do neoliberalês que de precário apenas têm garantido o corpo que habitam e só porque ainda não foram capazes de comprar a eternidade,
Tudo o resto lhes está assegurado.

DOS COMPADRES E DAS VERDADES

Ricciardi quer calar Marcelo 

Presidente do BESI diz que professor não tem condições de “imparcialidade” e “isenção”.

Ó Compadre Marcelo veja lá se tem tento na língua se não eu falo. Olhe que o Compadre e a sua relação como Primo Ricardo tem muitas pontas soltas. Aliás, a Comadre Rita Cabral também sabe muito das coisas da família.
Seria melhor que os Compadres e as Comadres, os primos e as primas, estivessem caladinhos e fizesssem um pacto de silêncio como fazem as Famílias a sério, Como a nossa.
Toda a gente ganharia com isso e a plebe e os jornais tinham menos com que se entreter.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

OS POBRES RICOS

"Afinal, quantos pobres recebem “950 euros” do Estado?"

Na discussão do Orçamento para 2015 o Justiceiro Social, Mota Soares, proclamou que era necessário colocar um ponto final na vida dos pobres que vivem à rica, com 950€ por mês e mais, vindos dos apoios sociais, ou seja, viviam da “chulice” e , como se não bastasse,  "à grande e à francesa”.
A comunicação social tentou que o Justiceiro Social dissesse quantas e quais mas o rapaz calou-se, disse nada.
Dado o silêncio do Justiceiro Social Mota Soares, o Público resolveu ir à procura dessa malandragem que vive à grande e são pobres
Das 400 famílias apoiadas pela Misericórdia de Almada, as oito famílias que recebem 700 ou mais euros de subsídios e apoios são constituídas por dois, cada um com cinco menores a cargo. Como um desses casais não tem qualquer fonte de rendimento recebe 940 euros de RSI e de abonos, o que dá 134 euros por pessoa, por mês. Para pagar casa, gás, luz, alimentação, e tudo o mais. Uma vida luxuosa, como se vê.
O segundo casal com cinco filhos menores, só a mãe trabalha, a tempo parcial, com um salário de 189 euros por mês. Recebe mais 716 euros de RSI e de abonos. São 102 euros por pessoa/mês.
Desses oito casos assinalados pela Misericórdia que recebe um montante mais elevado de prestações sociais, o maior é o de uma família de 11 pessoas sem rendimentos de trabalho. São sete adultos (só um frequenta um curso de formação) e quatro menores. O agregado recebe 984 euros em apoios do Estado, entre RSI e abonos, o equivalente a 89 € por mês por pessoa, daí a vida de luxo e ostentação que esta gente mostra.
 Segundo os técnicos que acompanham a família, “Este agregado familiar apresenta um total de despesas fixas, sem contar com alimentação, de 211,50 euros por mês”, prossegue o técnico. O que significa que, pagas essas despesas, sobram, na verdade, para a alimentação e tudo o resto, 70 euros por pessoa por mês. Vai dando para o Audi (se pedirem factura é claro)
Também pode ser interessante consultar os dados relativos ao que cada pessoa pode receber no âmbito dos apoios sociais que como é sabido têm sido objecto de corte substantivos.

Sabemos do oportunismo e fraude no acesso a apoios sociais, ou a qualquer outra forma de apoios, subsídios ou qualquer outro esquema que envolva dinheiro, chame-se RSI, Fundos Europeus, Swaps, Vistos Dourados, Branqueamento de capital, fraude e evasão fiscal etc., etc., É tudo uma questão de escala e de estatuto do autor. Ninguém imagina o Dr. Ricardo Salgado a aldrabar o RSI como também não se imagina o Xico dos Anzóis a receber uma prenda de 14 milhões dum rapaz chamado Zé Guilherme. Que quem direito actue em conformidade sem dois pesos e duas medidas.
Afirmo com frequência que uma das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em particular o de longa duração e de situações em que o tempo obriga a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas e a esmagadora maioria das pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a sobrevivência a que só se acede pela “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.

A questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida … mas lá que existe, existe. E de que maneira.

A PROLETARIZAÇÃO DO TRABALHO EM EDUCAÇÃO


pode ajudar a trilhar o caminho da MUNICIPALIZAÇÃO DAS ESCOLAS.
A educação vai sair certamente muito mais barata.

A ESCRAVATURA SAIRIA AINDA MAIS BARATA

"Estudo diz que trabalhadores têm poder a mais e prejudicam lucro das empresas"

Aqui está um estudo verdadeiramente interessante e pertinente que certamente constituirá um dos melhores exemplos do que Pires de Lima e Nuno Crato entendem por investigação.
Um trabalho, com o título "Concorrência na economia portuguesa: estimativas para as margens de preço-custo em mercados de trabalho imperfeitos", realizado por dois economistas do Banco Central Europeu vem demonstrar que o poder negocial dos trabalhadores portugueses é demasiado elevado o que, naturalmente, prejudica os lucros das empresas. Aliás, o milhão e meio de desempregados demonstra cabalmente esta tese.
O Estudo destes dois génios da economia incentiva e fornece a imprescindível base científica, estão a ver para que ser ver a investigação aplicada nas empresas, para que aumente a desregulação dos salários, para que se desregule por completo a contratação de pessoas, para que o despedimento seja como o Natal, quando um homem quiser, para que a precariedade seja a regra e usada sem qualquer limite, para que as horas de trabalho sejam fixadas exclusivamente pelas empresas, etc.
De acordo com estas duas geniais figuras, João Amador e Ana Cristina Soares, este é o caminho que permitirá “introduzir mais concorrência entre trabalhadores, em benefício do valor acrescentado das empresas.”
Dito de outra maneira, colocando os trabalhadores a lutar entre si pelo acesso a uma migalha que lhes asseguraria a sobrevivência, baixarão os custos do trabalho e, consequentemente, subiria e muito, o lucro da empresa,
Eu, sem que seja um especialista nestas matérias, julgo que só algum pudor natalício dos génios João Amador e Ana Cristina Soares lhes terá inibido a apresentação da proposta fundamentada cientificamente do recurso à escravatura como forma de baixar os custos do trabalho.
Lá chegaremos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

DIZ QUE É UMA ESPÉCIE DE MENSAGEM DE NATAL

"Passos pede a eleitores que não deitem "tudo a perder” em 2015"

Apesar do risco de que as minhas sinapses se possam estar a ressentir de uma enorme quantidade  de analgésicos e anti-inflamatórios que combatem uma interminável e dolorosíssima dor ciática, achei a Mensagem de Natal de Passos Coelho algo estranha,
Uma parte assegurada pelo Primeiro-ministro que nos descreveu e apresentou o País das Maravilhas , Levantou um problema, quem conheça minimamente o país dificilmente reconhece o que foi descrito.
Um outra parte da mensagem, esta da responsabilidade do Presidente do PSD que serviu para lançar a campanha eleitotal para 2015 com as promessas e as incontáveis referências aos amanhãs que cantam importados de outras cores se os eleitores, evidentemente, tiverem o bom gosto, o sentido patriótico, o bom senso, a lucidez, o sentido de justiça, a recompensa a quem se sacrificou, cumprirem o dever democrático, enfim se votarem nele.
Tentarei perceber pela análise das centenas de politólogos que certamente se seguirão o que na verdade disse Passos Coelho.

PELO DN EM DEFESA DO ENCANTO COM O PAI NATAL E DE OUTROS ENCANTOS

Para além das questões culturais e dos consumismos inerentes, "Acho que as crianças gostam de acreditar que o Pai Natal existe", mesmo quando já "sabem" que o Velho das Barbas não existe. Tem mais encanto. Como disse ao DN e vos referi ontem, eu see, eu já vi, eu já senti, como as crianças acreditam no Pai natal. É que eu ja fui Pai Natal
Deixem lá os miúdos acreditar no Pai Natal, talvez seja menos grave do que forma como alguns adultos acreditam ... nos mercados, por exemplo.

"Tecnologia que ajuda a manter a magia do Pai Natal"

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UM CONTO DE NATAL, PEQUENINO E ASSIM UM BOCADINHO SEM JEITO

Deixem-me recordar um continho de Natal, assim pequenino e um bocadinho sem jeito, que aqui deixei no ano passado, Julgo que aquilo que me levou a escrevê-lo, me leva à repetição,
De acordo com a tradição naquela família, ao fim da noite de Natal chegava o momento mais aguardado, sobretudo pelos mais novos, a abertura dos presentes que estavam empilhados em grande número ao pé da árvore de Natal.
Como também era habitual e devido à impaciência da espera, os mais novos eram sempre os primeiros.
Assim, o Francisco, com a autoridade dos seus oito anos, começou ansiosamente a desembrulhar os muitos presentes que lhe estavam destinados. A cada um a euforia aumentava. Ficou delirante com o telemóvel e a consola nova que os pais lhe ofereceram e não fosse a vontade de conhecer o resto das prendas, já não largaria os novos companheiros o resto da noite.
Recebeu ainda um portátil mais pequeno e mais recente do que já tinha, uma série de videojogos já adaptados à nova consola e uns fones de última geração.
O Francisco estava verdadeiramente nas nuvens ou, por assim dizer, completamente submerso pelo espírito natalício.
Por fim, apenas restava por abrir o presente do Avô Velho, um embrulho pequeno e discreto. O Francisco, com a agitação ao alto, abriu-o e mostrou um caderninho de capa dura e bege que tinha escrito na capa com a letra certinha e redonda do Avô Velho "As minhas histórias". O Francisco deitou-lhe um olhar rápido e pousou-o num canto onde ficou o resto da noite.
Quando toda a gente se foi deitar o Avô Velho ficou mais um pouco na sala, releu duas ou três das suas histórias e percebeu que já não era deste mundo.
Devagarinho, para não acordar ninguém, enfiou-se pela chaminé e partiu.

Bom Natal.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A NÁUSEA, A MEDIATIZAÇÃO DA POBREZA E EXCLUSÃO

Estou a assistir desde as 20h ao Jornal da RTP1. Confesso que estou nauseado.
Já perdi a conta às reportagens sobre os jantares de Natal que estão a ser "oferecidos" a "pobrezinhos" de Lisboa, do Porto e de outras cidades do País. Um destes jantares foi seguido por uma reportagem  sobre um jantar num hotel de 5 * destinado, evidentemente, a outra clientela. Evidente despudor.
As entrevistas, de uma forma geral, são obscenas e insultam a dignidade dos entrevistados, "este senhor" ou "esta senhora" que têm uma refeição "muito boa", "estou muito contente", "está tudo muito bem", têm um aspecto lavadinho e composto e agradecem muito a quem lhes oferece tal experiência muito caridosa.
Esta mediatização da pobreza, sazonal como é evidente, é um verdadeiro escândalo que nos deveria envergonhar a todos, a começar pelos (ir)responsáveis editoriais.

BURROCRACIA

"GNR multou condutor de ambulância que parou para reanimação de idosa"

Esta é uma daquela notícias que fazem as delícias do País Feliz. Não vale a pena comentar, a hsitória é absolutamente delirante e certamente inspirada no humor dos Monty Python.
Grave, grave, é que este alucinado episódio não é ficção, é mesmo realidade.
Deve ser também por isso que se costuma afirmar que a ficção ultrapassa a realidade.
De qualquer forma fica uma lição que convém não esquecer.
Veículos de socorro, ambulâncias por exemplo, nunca devem prestar qualquer tipo de apoio, seja em que circunstâncias forem, em auto-estradas. Sempre poderá surgir um zeloso carro-patrulha carregado de não menos "zelosos"agentes da autoridade(?) que passsarão as respectivas autuações ou contra-ordenções ou lá o que se chama à burocracia que trnsnforma boa parte desta gente nuns burrocratas.

O PAI NATAL

Aqui há dias, no âmbito de uma colaboração para um jornal da nossa praça falava-se na forma e até que idade as crianças acreditam no Pai Natal, perguntas de enorme dificuldade para uma resposta generalizadora. Aliás, faz parte da agenda desta época o surgimento de algumas peças na comunicação social sobre as crenças das crianças no Pai Natal.
Nesses trabalhos é frequente ouvirmos as crianças afirmar convictamente a sua crença no Pai Natal bem de pais que, conforme as suas convicções alimentam ou desincentivam a crença no Pai Natal.
No entanto, deixem-me afirmar com toda a certeza. Os miúdos acreditam no Pai Natal. Eu tenho a certeza, já fui Pai Natal e vi, senti, como eles acreditavam em mim. 
Nunca percebi muito bem porquê, mas ao longo da minha vida desempenhei várias vezes a função, a escolha dever-se-ia, provavelmente, à proeminente mochila que carregava à frente, agora um pouco mais pequena, felizmente, e às barbas brancas que de há muito me acompanham. 
Não pensem que é uma tarefa fácil, não é não senhor. Passar umas horas dentro de um fato quentíssimo com umas barbas ainda mais quentes que insistem em deixar a boca cheia de pêlos não é muito simpático. Mas os miúdos acreditam no Pai Natal e isso ajuda a aliviar o desconforto. Felizmente, naquela altura ainda não tinham inventado os Pai Natal que sobem às varandas, caso assim fosse desistiria mesmo, sou um rapaz demasiado pesado para o alpinismo, dado a vertigens sendo ainda que as noites são demasiado frias para se poderem passar pendurado na varanda de cada um. 
Numa das vezes em que fui Pai Natal de serviço, há já muitos anos, cena de que ainda possuo uma memória perfeita, lembro-me do ar aflito e preocupado de um gaiato que insistiu o tempo todo junto de mim para que não me esquecesse do que queria como presente, Moto Ratos, creio que se tratava de umas personagens de banda desenhada em voga na altura.
E o miúdo, sempre que me lembrava os Moto Ratos e fazia-o sempre que comigo se cruzava, tal era o desejo, explicava-me com os olhos muito abertos e com muitos gestos como se ia para casa dele para eu não me enganar no caminho. E não me enganei, Pai Natal que é Pai Natal cumpre sempre. Confirmei depois que ele recebeu os desejados Moto Ratos, claro, o Pai Natal não falha.
Deve ser bom acreditar no Pai Natal. Aliás, deve ser bom acreditar. Por isso, disse à jornalista que comigo conversava, deixem as crianças acreditarem no Pai Natal até que queiram ou que precisem. Não lhes roubem o encanto em nome de um qualquer conjunto de pseudo-modernices educativas.
Vão ter o resto da sua vida para acreditar e desacreditar, para desacreditar e voltar a acreditar.
Provavelmente, numa busca incessante pelo encanto perdido quando descobrimos que o Pai Natal não existe.

A TAP JÁ ESTÁ A VOAR, BAIXINHO MAS A VOAR, PARA QUE BOLSOS?

"Greve na TAP desconvocada"

A greve convocada pelos inúmeros sindicatos representativos dos milhares de funcinários da TAP contra o processo de privatização empresa foi desconvocada.
Imagino que ninguém acredita que tal tenha acontecido a troco da suspensão ou recuo no processo de privatização.
Aliás deu-se até um facto curioso que talvez tenha passado despercebido.
Uma parte da argumentação usada pelo Governo para justificar a requisição civil, a forma de evitar os efeitos da greve nesta altura particular, constitui, justamente, uma parte do argumentário para se privatizar a TAP o que, no mínimo, parece estranho. Ou não.
Tal situação mostra com clareza o que todos sabemos, a privatização da TAP, mais do que uma decisão económica ou politica é, uma decisão de natureza ideológica. Pode ser legítimo mas é importante que seja claro e transparente, sem subterfúgios ou manhas a que estamos mais do que habituados.
A verdade é que a TAP volta a voar, baixinho, mas voa. está por saber em que bolsos irá aterrrar e a que preço de saldo.

A PIOR PRISÃO É NÃO TER EM QUEM PENSAR

Por alturas do espírito natalício são mais frequentes as preocupações das comunidades, incluindo as pessoas e A comunicação social com os mais desfavorecidos.
Parece verificar-se um estranho fenómeno de se acreditar que o Natal,  só por ser natal, torna o difícil mais mais difícil ainda.. Não vislumbro a razão para que assim seja, Quem passa mal o ano inteiro passa também mal no Natal por mais boa vontade e empenho ques as comunidades coloquem em proporcionar algo de diferente que, do meu ponto e vista, apenas mostrará o que falta noutros dias podendo ter, por isso, um efeito contrário ao pretendido.
Serve esta introdução para uma nota breve sobre um trabalho no Público sobre a população encarcerada. Esta população constitui, aliás, um dos alvos preferenciais nas reportagens sobre o Natal em estreita competição com os sem-abrigo, aliás já tratados ontem num excelente trabaho assinado por Paulo Moura.
Neste trabalho alguém afirma cito, "Pior é estar detido e não ter em quem pensar. É horrível. A pior prisão é essa".
Dá que pensar no profundo signficado social deste enunciado e dá, sobretudo, para pensar no número enorme de pessoas que andam por aí, em liberdade, aparentemente, sem ninguém em quem pensar,
Alguns estão mesmo condendos a viver na solitária e a morrer de sozinhismo, no Natal ou quando um homem quiser,


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

OS PROBLEMAS ESPECIAIS DOS ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS E DAS SUAS FAMÍLIAS

"Quinhentas crianças do Grande Porto perdem terapeutas

Requalificação de 121 técnicos da Segurança Social deixa meio milhar de crianças com necessidades especiais sem terapeutas a partir da próxima segunda-feira."

De acordo com o Expresso, o despedimento, perdão, a requalificação,de 121 técnicos da Segurança Social  deixará 500 crianças com necessidades especiais sem apoio especializado.
Uma análise simples aos dados constantes no Relatório do CNE Estado da Educação 2013 mostra com alguma clareza um caminho que por várias vezes aqui tenho referido.
Em síntese, diminuiu para cerca de metade o valor dos apoios prestados através da Segurança Social relativos aos apoios especializados e a bonificação do abono de família em caso de deficiência.
Este abaixamento surge sustentado pela "normalização" de muitas crianças ou jovens, ou seja, independentemente da avaliação que lhes foi realizada, os serviços entendem que as crianças não têm as "necessidades educativas especiais permanentes" que lhes permitam aceder aos apoios. Como já disse, entendo que este "conceito" e o modelo definido nesta matéria me merecem sérias reservas e funcionam de forma pouco regulada mas, de qualquer forma, esta diminuição significativa é tanto mais estranha quando se sabe que em 2013 aumentou o número de alunos com NEE nas escolas.
Acontece no entanto que no contexto do chamado ensino regular, orientado por uma política educativa de selecção, "darwinista", para os mais "dotados", os que conseguem sobreviver, resolver os exames, a presença de alunos com necessidades especiais, com deficiência ou não, só atrapalha as estatísticas de sucesso. Assim sendo, colocam-se duas hipóteses, ou se mandam embora da escola de volta às instituições a quem se vai garantindo uns apoios para que por lá mantenham estes alunos, sobretudo adolescentes e jovens ou, outra hipótese e mais barata, nega-se de forma irresponsável e administrativa a sua condição de alunos com necessidades especiais, "normalizam-se" e passam a ser tratados como todos os outros alunos e espera-se que a selecção nas escolas e a iniciativa das famílias levem os meninos que atrapalham para fora da sala de aula, primeiro, em direcção ao ensino vocacional, por exemplo, e para fora da escola, depois.
Provavelmente este cenário explica o aumento que o Relatório do CNE refere de apoios financeiros às instituições de Educação Especial. As famílias de alunos com NEE vão sendo "aconselhadas" a que os seus filhos "frequentem" durante mais tempo as instituições de ensino especial que, naturalmente, precisam de mais apoios para receber os alunos matriculados nas escolas regulares e que em nome da inclusão passam cada vez mais tempo em instituições ou espaços pouco inclusivos com níveis de participação nas actividades da comunidade a que pertencem extremamente baixos. Como muitas vezes afirmo a participação é um critério de essencial de inclusão.
Finalmente, chamar a atenção para o desinvestimento continuado nos apoios a alunos com necessidades educativas especiais com falta de recursos humanos qualificados, suficientes e disponibilizados em tempo oportuno, falta de técnicos especializados e dispensa dos que existem, e funcionários nas escolas, problemas de acessibilidade, turmas com um número de alunos acima do definido legalmente, falta de formação adequada, etc. Estes problemas têm vindo a ser continuadamente referidos pela Inspecção-geral de Educação e também pelo CNE em Relatório divulgado em Junho e que aqui referi.
Na verdade, nada disto é novo mas está mais claro. 

O INFERNO FISCAL PARA PORTUGUESES, O PARAÍSO FISCAL PARA ESTRANGEIROS. É a economia, ESTÚPIDO

"Nunca os impostos tiraram tanto rendimento disponível às famílias"

Ao que nos vão dizendo, está a correr muito bem a ideia de oferecer benefícios ficais em Portugal a pessoal estrangeiro, no activo ou reformados. O público alvo está a aderir e espera-se que, como dizia o Paulo Futre, charters cheios de gente aterrem nos nossos aeroportos à procura do paraíso fiscal, nós recebemo-los no inferno ... fiscal. Deve estar certo.
É uma matéria certamente difícil para um cidadão normal, mas não percebo bem como se esmaga as famílias portuguesas até ao limite com uma carga brutal de impostos e se arranjam umas “baldas” fiscais muito simpáticas para estrangeiros qualificados e reformados.
Mas é mesmo uma orientação séria e assumida, ainda há pouco tempo o Geniozinho Pedro Lomba, Secretário de Estado Adjunto do Génio Poiares Maduro, Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, propôs atribuir ao Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural a função de aliciar estrangeiros "de elevado potencial" a vir para Portugal, incluindo estudantes e reformados.
Na verdade é melhor esquecer os muitos milhares de pessoas, sobretudo jovens e muito qualificados que têm partido por não vislumbrarem futuro em Portugal. Aliás, a recente decisão relativa ao financiamento de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento vai, certamente, empurrar para fora do país mais uns milhares de jovens altamente qualificados o que tem impactos fortíssimos em termos de economia e desenvolvimento. Nada de relevante, não fazem cá falta, seduzem-se uns quantos estrangeiros ricos.
O investimento é na atribuição de baldas fiscais a estrangeiros, não é estruturar regimes fiscais, envolvendo impostos directos ou indirectos, mais simpáticos para as famílias e empresas portuguesas e que seriam verdadeiramente promotores de crescimento e desenvolvimento económico.

Esta gente pode até nem ser muito competente, mas, pelo menos, poderiam gostar de nós, portugueses, a quem já chamaram “o melhor povo do mundo”.

O HUMANO E O QUE NÃO É HUMANO

"Martin Amis: “O homem não pode entender o holocausto, porque o holocausto não é humano”"

A propósito do lançamento do seu mais recente livro, The Zone of Interest, centrado na problemática do holocausto, Martin Amis afirma "O homem não pode entender o holocausto, porque o holocausto não é humano".
Discordo em absoluto desta afirmação, embora a possa compreender pela enormidade da devastação provocada pelo holocausto.
Na verdade, creio que o homem pode compreender o holocausto porque é um homem.
O homem pode compreender que condena à a mséria e à  fome milhões de outros homens porque é um homem.
O homem pode compreender que mata milhões de outros homens em nome de Deus porque é um homem.
O homem pode compreender que assassina centenas de crianças em escolas porque é um homem.
O homem pode compreender que convive com a maior serenidade com a mais obscena das opulências e a mais a mais miserável das condições huanas porque é um homem.
O Homem pode compreender que ...
Na verdade, tudo é obra dos humanos e, portanto, compreensível para os humanos.
A questão mais embaraçante é, porque não querem os humanos compreender?

OS PRESENTES DE NATAL. E OS FUTUROS?

"E se no Natal as crianças recebessem mais valores e menos prendas?"

Uma pequena colaboração num texto do Público sobre os presentes de Natal para os miúdos. Apesar da imortância, óbvia, que os presentes assumem, em particular nesta altura, continuo convencido que a questão essencial não é os os presentes que temos ou lhes lhes queremos dar, mas os FUTUROS que preparamos para lhes oferecer, esses sim, verdadeiramente importantes.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A PACC PARA GOVERNANTES

Item 25 da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades para acesso ao lugar de Governante no sector da Educação em Portugal: 

"MEC pagou rendas de 7,3 milhões à Parque Escolar por edifício que já foi seu"


a) Trata-se de um negócio ruinoso
b) Trata-se de um negócio com base em contabilidade criativa
c) Trata-se de um negócio genial
d) Trata-se de um negócio incompreensível

Informação para os Senhores Correctores. A resposta certa é, evidentemente, a resposta c)

A AVALIAÇÃO E FINANCIAMENTO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

"Resultados da avaliação da FCT: 11 centros excepcionais e 52 excelentes"

O processo de avaliação e consequente financiamento das estruturas que incluem o tecido de investigação científica nacional, já foi muito abordado e identificadas várias incongruências, errros processuais, incompetência e inadequação formal, tudo bastamente documentado e objecto de variadíssimas tomadas de posição, nacionais e internacionais, incluindo um duríssimo comunicado do CRUP - Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.
Foram divulgados os resultados da avaliação da segunda fase e, apesar de estarem ainda a correr processos de contestação, estaremos perto do final desta insustentável narrativa.
O MEC, a FCT, teerão atingido os objectivos encomendados à European Science Foundation, liquidar um parte significativa da investigação de centros e universidades, alguma com reconhecimento nacional e internacional mas insuficiente para caber nas quotas estabelecidas pela FCT com a cobertura do MEC.
O melhor e mais simples comentário que ouvi sobre todo este processo, lamentavelmente não me recordo o autor, foi qualquer coisa como "avaliar e financiar a investigação ciência desta forma, seria o mesmo que querer fomentar a prática desportiva num país apoiando apenas a alta competição. Seria um desastre".
Bem observado e perfeitamente dentro das ideias de Nuno Crato.

PARTIU JOE COCKER

Partiu mais uma voz que fez, faz, parte da banda sonora da vida de muitos de nós. Aqui o registo da que talvez seja a sua interpretação mais conhecida ainda que se trate um tema dos Beatles, registado no mítico Festival de Woodstock em 1969



SEDADOS, CALMINHOS, MAS DOENTES E INFELIZES

"Doentes mentais são sobremedicados “para não chatearem os familiares”"

Como já tenho referido, a doença mental é um daqueles não assuntos, interessa a meia dúzia de pessoas, sobretudo familiares de pessoas afectadas ou técnicos com intervenção na área. Talvez por isso mesmo, a saúde mental é o parente pobre das políticas de saúde.
No entanto e apesar da falta de visibilidade habitual, o Público dedica hoje um espaço importante e de reflexão obrigatória com o título em cima.
Por ser extraordinariamente elucidativo, cito as primeiras linhas do trabalho.
Já não é sequer notícia. A criação de residências específicas para pessoas com doença mental, prevista no decreto-lei dos Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental desde 2010, não saiu do papel. Maria João Neves, representante da Rede Nacional de Pessoas com Experiência de Doença Mental, fala das consequências desta falta de rede. Com reformas que rondam os 280 euros, as pessoas vêem-se obrigadas a ficar em casa de familiares, mesmo quando estão sujeitos a situações de violência. Perante a falta de soluções na comunidade, “resta aos médicos sobremedicarem as pessoas para não andarem a chatear os familiares. Para não andarem a chatear ninguém”.
Na verdade as pessoas com doença mental (sobre)vivem com um estigma que lhes retira direitos e qualidade de vida, autonomia e autoregulação e por falta de respostas comunitárias são sobremedicadas porque se andarem “sedadas” não chateiam ninguém, familiares, vizinhos, comunidade, nós. São pessoas que, por assim dizer, voam sobre um ninho de cucos.
Mau demais para se ler sem se sentir um sobressalto de indignação.
Para além da indignidade desta situação e do atropelo a direitos fundamentais das pessoas, gostava de referi uma outra situação da mesma natureza mas envolvendo gente mais nova que muitos de nós conhecemos e que muitos outros de nós fingimos que não conhecemos.
Deixem-me recordar que em Fevereiro de 2011 foi encerrada em Lisboa uma creche ilegal que, “alegadamente”, dava calmantes aos miúdos que deles não precisavam, tratava-se “apenas” de os ter mais calmos” e não “chatearem”.
Sabemos que Portugal, dados recentes comprovam-no, tem das mais altas taxas de consumo de psicofármacos e de auto-medicação, é a cultura de tomar “qualquer coisinha” que ajude a sossegar da vida e dos problemas que enfrentamos.
Por outro lado e no que respeita aos miúdos, tem emergido uma reconhecida prática de medicalização e sobrediagnóstico dos seus problemas. É reconhecido no âmbito da intervenção dos profissionais de saúde de práticas excessivas de prescrição de fármacos para “acalmar” as crianças.
Estamos a alimentar um processo de "ritalinização" de muitos miúdos a quem, apressadamente e de forma excessivamente ligeira, é colocado um rótulo de “dismiúdo”, ou seja, terá uma “dis”função qualquer, que justifica a medicação, estou a lembrar-me, por exemplo, do aumento exponencial de crianças consideradas "hiperactivas” quando algumas estão bem longe de justificar o rótulo e muito menos o diagnóstico.
Finalmente, uma nota sobre a minha convicção de que a agitação das crianças de que se fala com muita frequência, mais não é, na maioria dos casos, do que uma imagem reflexa da agitação dos adultos que as rodeiam. Adultos agitados, embalam e sustentam crianças agitadas. Por isso, “de facto”, talvez seja melhor tomar qualquer coisinha para ajudar a sossegar, adultos e crianças.
Na verdade, não é preciso assistir a filmes de ficção científica para perceber que uma sociedade de gente sedada é uma sociedade muito mais “tranquila”, doente, infeliz, mas “tranquila”.

AMARGURA CIÁTICA

Peço-vos desculpa da especial amargura presente nos últimos textos, mas uma intensíssima dor ciática que tem resistido há uma semana a toda a espécie de abordagens terapêuticas, exceptuando a receita falada na minha infância de queimar o nervo na orelha que não me atrevo a experimentar, tem introduzido um estado de total desânimo e dor nas sinapses o que as impede de olhar de forma um pouco mais positiva para o que se vai passando.
Sim, porque apesar de tudo o que nos rodeia, muito de positivo vai acontecendo e merecia referência mas, na verdade, não consigo.
Já estou quase convertido ao velho ditado "O Natal é quando uma ciática quiser".

domingo, 21 de dezembro de 2014

ESTAMOS CONTRAFEITOS

"ASAE apreendeu vestuário de contrafacção no valor de 110.000 euros"

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, mais conhecida por ASAE, informou que durante a última semana apreendeu no Norte do país 11.000 artigos de vestuário e calçado, com um valor estimado de 110.000 euros. Trata-se de produto contrafeito, naturalmente.
Recordo que a ASAE já tinha anunciado a apreensão de material num valor superior a oito milhões de euros no primeiro semestre deste ano, um aumento de 500% face a 2013.
Na verdade, nos últimos anos, as economias de muitos países, em Portugal com especial incidência, têm sofrido um ataque pesadíssimo através das práticas de contrafacção que envolvem muitos bilhões de euros em muitíssimas áreas.
Na verdade, também temos, como não podia deixar de ser, um florescente mercado de produtos contrafeitos que, através das populares "feiras" ou da mais sofisticada net, disponibilizam tudo o que se pretender, de qualquer marca, perdão "griffe". Ainda há pouco tempo me ofereceram com insistência uns óculos Armani, mesmo Armani, por 5 € que, obviamente, recusei, eram caríssimos apesar da excelência da qualidade e da marca, claro.
As organizações de defesa do consumidor, em particular a DECO, bem como a ASAE, destacam-se na forma como procuram combater a contrafacção, por vezes em acções com forte cobertura mediática, sempre no supremo interesse da “defesa do consumidor”. Assumindo, como qualquer de nós, esta condição de consumidor, não posso estar mais de acordo com esta atitude, embora possa discutir a mediatização e aparato de que se revestem muitas das acções desenvolvidas, apesar de, reconheça-se, ter aumentado a discrição.
Nesta perspectiva preocupa-me que a emergência e o alargamento da contrafacção em sectores tão importantes como a alimentação, possam retirar eficácia para lidar com um problema também muito sério, a presença de produtos de contrafacção na nossa vida política e na gestão dos grupos económicos o que, obviamente, compromete a sua qualidade.
Na verdade, a contrafacção no nosso cenário político e nas lideranças económicas que usam e abusam nos procedimentos e produção de produtos contrafeitos, de má qualidade ou tóxicos constitui uma enorme preocupação.
Quando analisamos e sentimos os discursos e as práticas das lideranças políticas e económicas percebe-se sem necessidade de recorrer a sofisticados dispositivos laboratoriais que se trata de produtos contrafeitos, muitos deles altamente tóxicos e ameaçadores da saúde social, económica, mental e física dos portugueses.
Os últimos tempos têm sido particularmente elucidativos no que respeita à existência destes produtos contrafeitos tóxicos e altamente prejudiciais á nossa vida.
Seria, portanto, imprescindível que os elementos da classe política, de diferentes quadrantes, e da administração de empresas e grupos que são, obviamente, produtos contrafeitos e de uma falta de qualidade ameaçadora, sejam detectados e recolhidos por iniciativa da DECO ou da ASAE para que os eleitores e cidadãos não adquiram gato por lebre ou mesmo produtos ameaçadores do seu bem-estar.
Se assim não for ... estamos contrafeitos.

A VIDA NORMAL DE DOIS SEM-ABRIGO

A vida normal de dois sem-abrigo

Em linha com a qualidade a que nos habituou, Paulo Moura tem hoje um trabalho no Público sobre o quem título  é designado como "A vida normal de dois sem-abrigo".
É evidente que designar como "normal" a vida de dois sem-abrigo soa estranho. No entanto, a existência e a vida dos sem-abrigo entrou numa estranha dimensão de normalidade, ou melhor, numa dimensão de transparência, não os vemos, vemos através deles, 
Está a chegar a época do Natal e agora sim, vão ganhar visibilidade. Vão multiplicar-se as refeições oferecidas a sem-abrigo, a que não faltará o bacalhau e o bolo-rei, Boa parte destes sem-abrigo vão aparecer com uma roupinha mais composta, oferecida, evientemente, que lhes dará melhor aspecto, tiveram um banho e tudo isto vai acontecer com uma obscena cobertura mediática.
Serão insultuosas as perguntas estúpidas e ofensivas que alguns repórteres televisivos entenderão por bem colocar aos sem-abrigo, perguntando, por exemplo, a "este senhor" ou a "esta senhora" se se sente bem e se gosta da refeição que lhes foi proporcionada. Perguntarão ainda se assim o Natal fica melhor e eles, que haveriam de dizer, dirão que sim, comem um bocado melhor, vestem umas roupas diferentes e aparecem na televisão, proporcionando um pornográfico espectáculo de mediatização da exclusão, da miséria e da pobreza,
Entretanto, a vida normal do Vítor e do João tratados com dignidade por Paulo Moura continuará na sua normalidade inaceitável.
Uma pequna nota para a indiferença com o que os que nos desabrigam olharão para estas coisas, coisas de pobres, irrelevantes, já se vê.

AS MUDANÇAS DO CARLOS ABREU AMORIM

"Já não sou um liberal. O Estado tem de ter força"

Numa muito curiosa entrevista ao Público, Carlos Abreu Amorim, o coordenador dos deputados do PSD na Comissão de Inquérito Parlamentar ao caso do BES acaba por concluir que esta riquíssima experiência mudou substantivamente a sua maneira de pensar, “Já não sou um liberal. O Estado tem de ter força”, afirma convicto. Sentiu, por assim dizer, um chamamento, e converteu-se.
Este rapaz tem um sentido de oportunidade e mudança particularmente afinado. Vai longe, pelo menos esforça-se.
Recordo o alarido causado quando resolveu apelidar de “magrebinos” o pessoal que não apoiava o seu FCP, sobretudo os que tinham a infeliz e estúpida ideia de apoiar o Benfica. Está certo, os mouros são gente de mau gosto e que procedem a más escolhas.
Por falar em más escolhas, também me lembro de Carlos Abreu Amorim ter sido imposto pelos chefes partidários como candidato nas autárquicas à Câmara de Gaia, concelho com o qual não tem qualquer afinidade e, naturalmente, ter levado um banho.
Também me lembro das críticas que resolveu fazer a Vítor Gaspar quando este abandonou o Governo. É evidente que criticar o Ministro quando ele estivesse exercício é mais difícil, poderia até custar o lugarzinho de deputado que tanto trabalho dá a conseguir.
Finalmente, esta sim teve graça, é homem de um fino sentido de humor, recordo que em Janeiro ter afirmado que Cavaco Silva acerta … quando está calado.
Talvez esta a sua recente afirmação sobre a sua mudança “ideológica, por assim dizer, tenha sido um regresso a este entendimento. Carlos Abreu Amorim acerta … quando está calado.
De qualquer forma registo a mudança no discurso de Carlos Abreu Amorim. Talvez 2015 traga outras mudanças nos discursos dos deputados. Talvez boa parte deles resolva começar a representar os interesses de quem os elegeu e não os interesses que quem lhes manda carregar no botãozinho certo na hora certa, guardando a consciência na gaveta da secretária.

A ver vamos.