"Resultados do teste diagnóstico de Inglês adiados por falta de professores avaliadores"
Prossegue a deriva do exame de
Inglês. Agora não saíram os resultados pois por falta de professores avaliadores o processo ainda não está concluído.
Certo, tudo dentro da normalidade.
Recapitulando. De forma coerente
com a sua obsessão com os exames, o MEC, numa pouco habitual e de estranhos
contornos parceria público-privada, envolvendo a Universidade de Cambridge,
Porto Editora, BPI, Connexall, Fundação Bissaya Barreto e Novabase, instituiu
um exame de Inglês para os alunos do 9º ano e aberta também aos do
10º, 11º e 12º.
Acontece que os professores
classificadores deste exame, professores de inglês obviamente, realizariam esta
tarefa, que envolve ainda um período de formação em regime de voluntariado. Ao
que parece, a apetência dos professores de inglês pelo voluntariado terá sido
revista em baixa, é de grande austeridade, pelo que faltaram os avaliadores e
temos, assim, um atraso na divulgação de resultados pois o processo de
avaliação sofreu evidentes atrasos.
O MEC, de forma expedita, por
mail e telefone (é uma abordagem mais personalizada) entrou em contacto com os
directores das escolas e agrupamentos solicitando que indiquem “voluntários”
para o exame de inglês. Vários directores consideraram este procedimento uma
forma de pressão inaceitável, mais um factor de instabilidade nas escolas e
criou uma situação de difícil gestão dada a sobrecarga de trabalho que implica
nesta altura do ano, pelo que não indicam “voluntários” ou fazem-no por receio
de eventuais consequências.
Toda esta história constitui um
exemplo, mais um, da deriva em que se tem tornado boa parte da PEC – Política
Educativa em Curso. Um exame nacional imposto e obrigatório, independentemente
da bondade da medida e do modelo escolhido, não pode assentar no voluntariado
dos docentes.
O MEC não tem que promover o
voluntariado dos professores para que desempenhem as tarefas que entende
atribuir-lhes.
Acontece ainda que o exame
realizado não correspondeu ao nível esperado, B1, correspondente ao 9º ano, mas
o nível A2, que corresponde ao 7º ano. O Instituto de Avaliação Educativa
afirmou que será assim por uma questão de prudência, justificação que me fez
recordar as recorrentes afirmações de Nuno Crato quando era opinador e se
insurgia contra "o facilitismo" dos exames para promover estatísticas
com melhor aspecto, por assim dizer. Agora, o MEC reconhece que não pode
esperar que os alunos tenham as competências que deviam e ... baixa a exigência
do exame em vez de tentar, tentarmos, criar as condições para que as
aprendizagens esperadas aconteçam.
Por outro lado, a Associação dos
Professores de Inglês também entende o nível mais baixo do exame pois com as
condições de ensino actual, carga horária da disciplina de inglês e
número de alunos por sala, as aprendizagens esperadas não têm condições de se
realizar.
Finalmente e ao que parece,
muitas famílias não terão solicitado o certificado do exame, uma outra
perplexidade. O MEC institui um exame obrigatório, com um nível
"facilitado" durante a escolaridade obrigatória. Se o aluno quiser o
respectivo certificado deverá pagar a módica quantia de 25 €, considerada pelo
IAVE uma "oportunidade única para obter um certificado reconhecido
internacionalmente a um preço simbólico”, pois no mercado “o preço normal deste
certificado é de cerca de 75/80 euros”, embora, como é habitual entre nós,
faz-se uma atençãozinha, os beneficiários do escalão de acção social mais
elevado ficam isentos de qualquer pagamento, os do segundo escalão pagam apenas
metade do valor.
Tenho umas dúvidas pequeninas,
este exame, assim, serve para quê? Para aferir se os resultados em Inglês dos
alunos do 9º ano ou de anos posteriores atingiram as competências do 7º ano?
Qual o valor desta certificação?
Porque é será que tudo isto deixa
uma enorme sensação de desconforto e estranheza?
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