Há já alguns anos, numa conversa
com professores de uma escola na zona de Lisboa ouvi esta história,
verdadeira.
Nessa escola andava um rapaz, o
Júlio, de doze anos mas que não tinha aprendido ainda muitas coisas, tinha
mesmo aprendido pouco, diziam as professoras que conheciam o Júlio.
Também diziam que era um rapaz com capacidade para aprender, o problema é que todos os anos, logo nas primeiras semanas, o Júlio deixava de aparecer na
escola, acompanhava os pais na venda pelas feiras.
No início de mais um ano, uns
dias antes das aulas começarem, uma das professoras da escola encontrou o
Júlio e interpelou-o, “Júlio, este ano é que vai ser, tens de vir para a escola
e ficar até ao fim”.
O Júlio ouviu, pensou um pouco e do
alto dos seus doze anos e com a sabedoria de alguns anos de feira, perguntou, “Para a
escola eu, Professora? Então eu nem sei ler nem escrever, venho para a escola
fazer o quê?”
Hoje lembrei-me da forma como o
Júlio olhava para a escola.
Acho que de mansinho se está a preparar
uma escola como a que o Júlio percebe, ou seja, "quem não sabe o que devia saber, não tem
que estar lá e quem não consegue aprender também não".
Gostava de me enganar mas a luta
vai ser dura.
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