"Empresas obrigam mulheres a garantir que não vão engravidar durante cinco anos"
A cada ano que passa o número de
nascimentos vai sendo revisto em baixa, Portugal apresenta uma das mais baixas
taxas de fertilidade da Unirão Europeia.
É ainda de registar que em 2010,
um pouco mais de 10% dos nascimentos são crianças de mães estrangeiras, quando
curiosamente temos discursos de governantes que nos aconselham, sobretudo aos
mais novos, a emigrar e assim, lá longe, construir um projecto de vida. Os
dados mais recentes sobre a emigração confirmam este fenómeno, a saída de
muitos jovens.
Estes indicadores comprometem,
obviamente, a renovação geracional, potenciando o envelhecimento populacional e
o desequilíbrio demográfico que se tem acentuado fortemente a partir de 2003.
É ainda interessante sublinhar
que trabalhos recentes evidenciam que as mulheres portuguesas são de entre as
europeias as que mais valorizam a carreira profissional e a família. Também é
sabido de outros estudos que as mulheres portuguesas são das que mais tempo
trabalham fora de casa, aliás, são também das que mais tempo trabalham em casa.
Como parece claro, este cenário,
menos filhos quando se desejava fortemente compatibilizar maternidade e
carreira, exige, já o tenho referido, a urgência do repensar das políticas de
apoio à família. Os salários baixos ou o desemprego são uma das razões que
“obrigam” a que as famílias revejam em baixa, como agora se diz, os projectos
relativos a filhos. Por outro lado, Portugal tem um dos mais elevados custos de
equipamentos e serviços para crianças o que, naturalmente, é mais um obstáculo
para projectos de vida que envolvam filhos.
Não pode ainda esquecer-se a
discriminação salarial de que muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor
qualificação, são ainda alvo e a forma como a legislação laboral e a sua
“flexibilização” as deixam mais desprotegidas. São conhecidas muitas histórias
sobre casos de entrevistas de selecção em que se inquirirem as mulheres sobre a
intenção de ter filhos, obrigando mesmo a um compromisso anti-família (como hoje Joaquim Azevedo denunciava), sobre casos de implicações laborais negativas por
gravidez e maternidade, sobre situações em que as mulheres são pressionadas
para não usarem a licença de maternidade até ao limite, etc.
Toda esta situação torna urgente
a definição de políticas de apoio à família com impactos a curto e médio prazo
como, por exemplo, a acessibilidade aos equipamentos e serviços para a infância
com o alargamento da resposta pública de creche e educação pré-escolar, cuja
oferta está abaixo da meta estabelecida bem como combater a discriminação
salarial e de condições de trabalho através de qualificação e fiscalização
adequadas.
Seria ainda importante, à
semelhança do que se passa noutros países, a introdução de ajustamentos na
organização social do trabalho, nos horários, por exemplo,
que tornassem mais amigáveis e compatíveis para famílias com filhos
os desempenhos profissionais. Os custos destas medidas seriam certamente
compensados em várias dimensões.
Só com uma abordagem global e
multi-direccionada me parece possível promover a recuperação demográfica indispensável.
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