"Há “iniquidades” no sistema de saúde e dois mundos: o real e o oficial"
"Observatório acusa Governo de “síndroma de negação” do efeito da crise na saúde"
"“Há uma preocupante conjugação de factores desfavoráveis à saúde mental”"
O Relatório Anual do Observatório
Português dos Sistemas de Saúde hoje divulgado chama a atenção para o que
considera ser o impacto negativo das medidas resultantes políticas de austeridade
aplicadas no sector da saúde. O Observatório sublinha o “síndroma de negação” de
que sofrerá o Governo negando a realidade, as consequências na saúde das
pessoas com obstáculos ao acesso aos serviços de saúde a que se
acrescentam as dificuldades criadas aos próprios serviços no sentido garantirem
o cumprimento da sua missão.
O Relatório mostra uma especial
preocupação com as questões relativas à saúde mental. Os tempos que
atravessamos e conforme vários especialistas e estudos demonstram potenciam
impactos negativos na saúde mental, situação que, de acordo com o Relatório,
"é agravada por uma resposta
organizacional insuficiente e sustentada por um sistema de informação
aparentemente medíocre”. Existe suporte na investigação para se poder
correlacionar a taxa de prevalência de doenças mentais com os níveis de
desigualdades sociais e de saúde, aliás, regista-se um aumento da procura de
consultas por pessoas em situações fragilizadas no quadro de desemprego e
dificuldades económicas. Portugal está a apresentar em várias situações
clínicas níveis de incidência extremamente elevados sendo que a resposta é claramente
insuficiente.
Também aqui nada de novo, a
experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes, um parente
pobre no universo das políticas de saúde. Quando a pobreza das pessoas aumenta
e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.
Como afirma Michael Marmot,
reconhecidíssimo especialista em saúde pública, que há algum tempo esteve em
Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos
na área da saúde.
Talvez a ideia do "custe o
que custar" fosse de repensar, pela nossa saúde.
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