"Portuguesas vivem cada vez mais tempo, mas com menos saúde"
Quando se comparam os indicadores
relativos à esperança de vida, em que realizámos um progresso notável, com a
manutenção de vida saudável nessa última fase, em que ocupamos os lugares mais
baixos a Europa, ou seja, vivemos mais mas mais doentes, sobretudo as mulheres, importa não esquecer
as condições de vida, um indicador com influência muito significativa. A definição deste nível de vida não se liga apenas a recursos
económicos mas, sobretudo, a recursos educacionais, nível de informação,
acessibilidade a apoios, etc.
Este cenário sublinha duas
questões que parecem fundamentais e que nem sempre parecem suficientemente
valorizadas. Em primeiro lugar há que considerar a importância decisiva que em
todas as dimensões da vida das pessoas assumem a qualificação e a informação.
Melhores níveis de formação promovem melhor qualidade nos estilos de vida.
Na verdade as condições de vida
de boa parte dos nossos velhos são complicadas.
Começam por ser desconsiderados
pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os
velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos
dependentes de medicação e apoio, sem médico de família e com dificuldades evidentes no acesso aos cuidados de saúde. Em muitas
circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias
dificuldades, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte
significativa do problema e não da solução.
Finalmente, as instituições,
muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente
fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis
aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Por outro lado, é também de
referir que as alterações dos estilos de vida e dos valores produzem cada vez
mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com consequências que
têm feito manchetes. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência
comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente,
um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que
lhes permitem aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e
merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
Lamentavelmente, boa
parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma
narrativa.
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