"Notas dos 4.º e 6.º anos subiram a Português e desceram a Matemática"
Algumas notas telegráficas sobre
o resultado dos exames do 4º e do 6º ano.
Uma primeira nota prévia. Um dos
grandes problemas que, do meu ponto de vista, aflige a educação em Portugal é a
captura dos interesses gerais pelos interesses da "partidocracia",
isto é, a educação é um território privilegiado da gestão político-partidária.
Neste contexto, os exames desempenham um papel importante nesta gestão através
da "modulação", por assim dizer, da sua dificuldade, levando a que os
resultados encontrados sejam utilizados nesta gestão política dos interesses da
partidocracia. Este entendimento minimiza o impacto das análises comparativas. Veja-se, por exemplo, a discussão recorrente e raramente consensual sobre o grau de dificuldade e adequação dos exames. Veja-se ainda a interessante perspectiva da Associação de Professores de Matemática sobre a existência dos próprios exames e que vai ao encontro do que muitas vezes aqui tenho afirmado
No entanto, é possível atentar em
algumas tendências.
Comparativamente a 2013, no 4º e no
6º ano os resultados em Português subiram e em Matemática desceram ligeiramente
mantendo-se no 6º ano uma média negativa, 47.3%. O dado que me parece mais
significativo é a diferença para 2012 em que a média foi de 54%.
O abaixamento dos resultados em
Matemática, a área com resultados habitualmente menos positivos parecem
comprometer a evolução que estava a acontecer como comprovado pelos estudos
comparativos internacionais.
Importa, evidentemente, proceder
a uma análise mais fina deste conjunto de resultados mas creio que vale a pena
considerar o efeito de alguns factores como, a sobrelotação de muitas turmas,
com vários de escolaridade integrados (caso do 1º ciclo), das metas
curriculares excessivas e burocratizadas inibidoras da acomodação de diferenças
entre os alunos, falta de dispositivos de apoio ou ainda um calendário escolar
insustentável.
Com a colagem do calendário
escolar às festas religiosas tem-se verificado um enorme desequilíbrio na
duração dos períodos. A esta situação acresce que o já reduzido terceiro
período é interrompido para a realização dos exames para que os
"reprovados" tenham uma segunda oportunidade após um período
suplementar de aulas. O terceiro período transforma-se num tempo dedicado aos
exames e a realização mais cedo e a criação do período suplementar de aulas é
de eficácia reduzida como se comprovou o ano passado.
A realizarem-se os exames, o MEC
acredita que só por existirem o sistema melhora, o que está longe de acontecer,
deveriam acontecer no final do ano e os apoios aos alunos deveriam ser
providenciados ao longo dos anos de cada ciclo, devendo o MEC garantir a
existência de docentes e desses dispositivos de apoio, algo que não acontece.
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