Assinala-se hoje a data
instituída para comemoração do Português como língua. A data foi fixada assente
no mais antigo documento aceite como escrito em português, o testamento de D.
Afonso II, de 27 de junho de 1214. Cumpre, portanto, 800 anos de Português.
Esta idade deveria merecer respeito e prevenir maus tratos.
Talvez a efeméride pudesse
constituir um pretexto para repensar o ataque à Língua Portuguesa constituído
pelo sinistro Acordo Ortográfico que nos estará a ser imposto por interesses
mesquinhos e razões pouco sustentáveis.
Como várias vezes tenho referido,
do que tenho lido e ouvido, nada me tem convencido da sua bondade ou necessidade,
antes pelo contrário, as intenções são muito pouco transparentes para ser
simpático.
Entendo que as línguas são estruturas vivas,
em mutação e isso é importante. Neste cenário, é clara a necessidade de
ajustamentos, por exemplo, a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia
de outras o que não me parece sustentação suficiente para o que o Acordo
Ortográfico estabelece como norma. Já estou cansado do argumento da “pharmácia”
quando se pode verificar que em todos os países, e são muitos, em que o termo
tem a mesma raiz, a grafia é com “ph” e nada de muito grave acontece. A
introdução ou mudança na grafia tem acontecido em todas as latitudes e não tem
sido necessário um Acordo com os conteúdos bizarros, alguns, que este contém.
Por outro lado, a grande razão, a
afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence pois não me
parece que o inglês e o castelhano que têm algumas diferenças ortográficas nos
diferentes países em que são língua oficial, experimentem particulares
dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for. De facto, não tenho
conhecimento de perturbações ou de dramas com origem nas diferenças entre o
inglês escrito e falado na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas isto
dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante daquelas
comunidades anglófonas. O mesmo se passa entre a comunidade dos países com o
castelhano como língua oficial.
Por outro lado, a opinião dos
especialistas não é consensual, longe disso, temos regularmente exemplos disso
mesmo, e eu sou dos que entendem que em todas as matérias é importante conhecer
a opinião de quem sabe. Aliás, é interessante analisar a natureza da
argumentação dos especialistas favoráveis ao Acordo. Algumas vezes assenta,
sobretudo, no porque sim, porque é novo. É pobre.
Neste quadro e como sou teimoso vou
continuar a escrever em desacordo com o Acordo até que o teclado me corrija.
Nessa altura desinstalo o corrector que venha com o Acordo e vou correr o risco
de regressar à primária, ou seja, ver os meus textos com riscos vermelhos por
baixo de algumas palavras, os erros.
Não é grave, errar é humano.
No entanto, como toda gente, não
gosto de errar, pelo que preferia continuar a escrever assim, desacordadamente.
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