“As crianças dão ânimo. Sem elas a freguesia fica mais sozinha”
Decadência
Porque o encerramento de escolas continua na
agenda e me parece justificar-se, aqui se retomam algumas notas.
Muitas das questões que se colocam em educação, como noutras
áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento
histórico que nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento. Durante
décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos
educativos e com a escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde
houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura
sempre evitadas. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e
emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o
que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um
universo de milhares de escolas, sobretudo no 1º ciclo, com pouquíssimos
alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e
manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve
colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e
formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso
mesmo. Parece pois ajustada a decisão de em muitas comunidades proceder a uma
reorganização da rede.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da
escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de
considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social promovem a litoralização
e desertificação do interior. Apostas políticas erradas não contrariam este
processo, antes pelo contrário, promovem-no fechando os equipamentos sociais,
incluindo as escolas, uma das formas evidentes de fixação das pessoas. Cria-se
assim um ciclo sem fim, as pessoas partem, fecham-se equipamentos, as pessoas
não voltam ou continuam a partir.
Seria fundamental a coragem e a visão para outros caminhos.
Por outro lado, afirmo-o com frequência, a concentração
excessiva de alunos não ocorre sem riscos. Para além de aspectos como distância
a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico, importa não esquecer que
escolas demasiado grandes são mais permeáveis a insucesso escolar, absentismo,
problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental.
Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não deve ser
vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não pode
assentar em critérios cegos e generalizados esquecendo particularidades
contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para
o jogo político.
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