"Projecções para a abstenção em Portugal entre 61% e 66,6%"
Antes de começar a retórica do
ganharam todos, pensem no que se perdeu. Costumo dizer que uma das vantagens da
velhice é ter história e ter histórias. Hoje, dia eleições para o Parlamento
Europeu, ao andar pela rua sem notar nada que lembrasse o acto eleitoral,
lembrei-me das primeiras eleições realizadas em Portugal depois de 1974,
livres, como lhes chamámos. Realizaram-se a 25 de Abril de 1975 e tratava-se da
eleição para a Assembleia Constituinte. Provavelmente, os mais novos não
saberão e alguns dos mais velhos não se lembrarão mas votaram uns esmagadores
91,2% dos cidadãos inscritos. Depois de um período sem eleições livres a
mobilização foi espantosa, lembro-me de que se viam autênticas romarias para os
locais de voto. Passei cerca de 5 horas numa fila de gente para votar e não se
ouvia um protesto, antes pelo contrário, o clima parecia de festa, a festa da
cidadania e da democracia.
Hoje, quando forem conhecidos os
primeiros resultados virão as lideranças partidárias, todas, reclamar vitória,
a curiosidade está apenas nos critérios de justificação porque todos
“ganharão”. Em bom rigor, a posição política que mais eleitores terá atraído
será justamente a abstenção, espera-se um valor entre 61 e 66.6%,
ou seja, os eleitos representarão uma minoria dos cidadãos. Este é que é o
verdadeiro resultado eleitoral a carecer de análise. Que fizemos da nossa
mobilização para a participação? Que fizemos da nossa capacidade de acreditar
que o voto faz sentido? Porque se instalou esta atitude de descrença e
indiferença? Porque estaremos convencidos de que “não adianta” “são todos
iguais”?
Estas e outras questões, creio,
deveriam ser o mais sério objecto de análise de toda a gente que, daqui a umas
horas, encherá os espaços da comunicação social.
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