"Portugal é o terceiro país da OCDE com mais desemprego entre os jovens"
Entre os países da OCDE Portugal é o terceiro país com taxa
de desemprego jovem mais elevada, 34.5% na população entre os 15 e os 24 anos,
sendo 23.4% a o valor médio na UE.
Recordo ainda que segundo os últimos dados conhecidos Portugal
tem cerca de 440 000 jovens entre os 15 e os 34 anos que nem estudam nem
trabalham, um grupo social que vai sendo designado por geração “nem, nem”, um
termo e uma dimensão devastadora que nos deveria embaraçar.
Acresce ainda que se está a verificar também a utilização
abusiva e escandalosa de estágios profissionais não remunerados, sobretudo de
jovens qualificados, situação que permite aos empregadores aceder a mão-de-obra
gratuita por alguns períodos de tempo que podendo ter impacto nas estatísticas
não muda a vida das pessoas.
Vale a pena recordar também que, em Janeiro e segundo o
EUROSTAT, Portugal era o quinto país europeu, dos 21 considerados, em que mais
jovens entre os 25 e os 24 vivem com os pais, 46 %. Para comparação, Dinamarca,
Suécia e Finlândia têm percentagens inferiores a 5 %.
Este cenário não é mais grave porque muitos milhares de
jovens, sobretudo qualificados, estão a sair do país, emigrando para outras
paragens. A emigração parece assim constituir-se como via quase exclusiva para
aceder a um futuro onde caiba um projecto de vida positivo e viável como tem
vindo a verificar-se.
Acresce que de acordo com um Relatório da Organização
Internacional do Trabalho em 2011, 56 % dos jovens portugueses com trabalho têm
contratos a prazo. Há algum tempo uma informação do Banco de Portugal referia
que em cada dez empregos novos para jovens, nove são precários.
Segundo um estudo da CGTP, 51% dos jovens com menos de 25
anos ganha menos de 500 € e 24,5% dos jovens entre os 25 e os 35 recebe também
menos de 500 €. Este cenário evidencia a enorme precariedade do trabalho e
baixa qualificação do mesmo.
A precariedade nas relações laborais quase duplicou na
última década. Portugal é o segundo país da Europa, a seguir à Polónia, com
maior nível de contratos a prazo. Por outro lado, as políticas de emprego em
curso incluem maior flexibilização das relações laborais.
Neste cenário, os desequilíbrios fortíssimos entre oferta e
procura em diferentes sectores, a natureza da legislação laboral favorável à
precariedade e insensibilidade social e ética de quem decide, promovem a
proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas ou mesmo o
recurso a uma forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de
"estágio" sem qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a
merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da dignidade.
Acontece ainda que alguns dos vencimentos que se conhecem,
atingindo também camadas altamente qualificadas, não são um vencimento, são um
subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela sobrevivência que deixa
muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo
do trabalho sem margem negocial, altamente fragilizadas e vulneráveis, que
entre o nada e a migalha "escolhem amigavelmente" a
"migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de
período de um indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta dramática situação
vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai esmagando novos grupos
sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são
"obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são
activos descartáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário