"Famílias: da promessa "felizes para sempre" caiu o "para sempre""
Segundo o INE, cerca de 15% das
famílias são constituídas por pai ou mãe sós com filhos. As situações de monoparentalidade
têm como principal causa a ruptura conjugal. Esta associação subiu de 21.9%
para 43% entre 1991 e 2011.
Na véspera do Dia Internacional
da Família e em linha com múltiplas referências na imprensa, emergem reflexões sobre as famílias e as suas dinâmicas de
constituição, organização e funcionamento acentuando os processos de mudança
verificados, muito significativos em alguns aspectos.
No entanto, do meu ponto de
vista, quase sempre me parece que as diferentes abordagens não valorizam, por
vezes nem referem, um aspecto que entendo relevante e que considero dos mais
complexos desafios sociais que actualmente enfrentamos, a educação familiar, ou
seja, o que é, o que deve ser, como deve ser a educação familiar em contextos
altamente diferenciados e em mudanças permanentes.
De facto, as enormes alterações
que temos vindo a constatar no universo das famílias implicam uma séria
reflexão sobre as suas implicações e impacto na educação familiar. O paradigma
clássico, a família educativa e a escola instrutiva, mudou substantivamente o
que não significa, obviamente, a alienação do papel educativo da família, mas
sim atentar nas novas qualidades que esse papel vai assumindo, parafraseando
Camões.
Desde logo porque, por questões
de logística e funcionalidade, o tempo familiar para as crianças encolheu de
forma dramática, os miúdos passam tempos infindos na escola sob um princípio a
que até o MEC se lembrou de chamar de forma infeliz “Escola a tempo inteiro”.
As famílias expressam uma enorme dificuldade em compatibilizar o que ainda
entendem ser o seu papel educativo com a pressa e o pouco tempo que assumem ter
para o realizar. Tenho conhecido dezenas de pais que se sentem culpados e
fragilizados por entenderem que não têm a disponibilidade de tempo e atitude
que julgam necessária para os filhos. Esta culpa e fragilidade é, com
frequência, a base inconsciente que impede alguns pais de serem consistentes e
firmes na definição de regras e limites imprescindíveis às crianças, pois
“temem estragar” o pouco tempo que têm com elas devido a um eventual conflito.
Uma outra questão prende-se com o
modo e a dificuldade que muitos pais me referem sentir quando lidam com as
crianças em situação de “duas famílias”. Mais uma vez, as inseguranças e algum
sentimento de culpa estão presentes e contribuem para embaraços que levam os
pais a pedir alguma ajuda. Como sempre digo, é preferível uma boa separação a
uma má família, mas alguns pais sentem-se inseguros para construir cenários de
educação familiar com qualidade quando têm a guarda das crianças repartida.
Tem vindo a crescer o número de
situações de casais que apesar de separados continuam a coabitar o mesmo espaço
ou que nem sequer assumem a separação, criando uma situação de "casados
por fora" e "descasados por dentro", poderá implicar, quando
existem filhos, algumas ansiedades e inquietações nos pais sobre a forma de
lidar com um contexto em que aparentemente existe uma família, quando na
verdade já são duas com uma ou mais crianças entre elas.
A experiência mostra, como referi
acima, que a educação familiar se constitui como uma área extremamente complexa,
não existem dois contextos familiares iguais sendo que, para além de tudo, se
trata de um universo extremamente sensível a valores e convicções.
Assim sendo, importa estarmos
atentos e procurar disponibilizar apoios e orientações nas situações em que os
pais revelam e exprimem mais insegurança e dificuldades e que muitas vezes são
fonte de grande sofrimento para todos os envolvidos. Estas situações são bem
mais frequentes e graves do que julgamos.
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