"Todos os meses a União Europeia detecta sete drogas novas no mercado"
Recordando Camões, o mundo é composto de mudança, tomando
sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que outras, deve dizer-se.
Segundo o Relatório Europeu sobre Drogas: Tendências e Evoluções, de 2013, da responsabilidade do Observatório Europeu das Drogas
e da Toxicodependência, durante o ano que passou foram introduzidas no mercado 81 novas drogas,
as detectadas, um mercado florescente de há uns anos para cá e sempre em
crescendo no número de novas substâncias conhecidas. Acresce ainda as mudanças
verificadas na produção das drogas já em utilização tornando-as mais potentes
e, consequentemente, mais perigosas.
Muitas destes novos produtos entram em circulação legal em
diferentes países no mercado das smartshops que recentemente foi objecto de
regulação bastante mais restritiva em Portugal, embora a venda destas chamadas
"drogas legais", muitas agora ilegalizadas, deslize para o mercado clandestino.
Por outro lado, é ainda de salientar a tendência crescente,
como o Relatório agora conhecido evidencia, da utilização da net e das redes
sociais como suporte à venda de drogas. Nada de surpreendente, poderíamos mesmo
dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais podem assumir papéis
significativos em movimentos sociais e políticos, porque não no tráfico de
droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas consequências, mas pela
“facilidade” de funcionamento e da dificuldade do combate, necessita de uma
política séria de prevenção e tratamento para além do combate ao tráfico que
possa, tanto quanto possível, contar com os recursos adequados, mesmo em
cenários de contenção, como sublinha João Goulão, presidente do Observatório.
A questão preocupante e que tem sido motivo regular de
alerta por parte de especialistas, é que os cortes e ajustamentos nos recursos
humanos e materiais disponíveis correm o risco de criar sérios constrangimentos
na prevenção, tratamento do consumo e do combate ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito, existem áreas de problemas
que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente
sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir
mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A
toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se
habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo
que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto
potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas
estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão
e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos,
persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro, façam
as contas aos resultados do descuidar.
Sem comentários:
Enviar um comentário