"Portugal é o terceiro país da Europa ocidental com mais raparigas obesas"
Segundo estudo publicado na
Lancet, em Portugal 28,7% dos rapazes,
27,1% das raparigas, 63,8% dos homens e 54,6% das mulheres evidenciam excesso
de peso, enquanto a obesidade afecta 8,9% dos rapazes, 10,6% das raparigas,
20,9% dos homens e 23,4% das mulheres. Estes indicadores vão na linha dos que a
OMS divulgou há algum tempo, soretudo no que respeita à população mais nova.
Na Europa, mais de 27% das
crianças com 13 anos e 33% com 11 têm excesso de peso. Portugal é um dos países
com indicadores mais inquietantes, 32% das crianças com 11 anos têm peso a
mais.
Nada de novo, recordo um estudo,
“EPACI Portugal 2012 – Estudo do Padrão Alimentar e de Crescimento na
Infância”, segundo o qual, 31.4% das crianças portuguesas entre os 12 e os 36
meses apresentam excesso de peso e 6.5% situações de obesidade. Os dados são
preocupantes mas não surpreendem indo no mesmo sentido de dados envolvendo
outras idades.
Um trabalho da Universidade
de Coimbra divulgado em 2013 sublinhava, mais uma vez, o impacto que o
sedentarismo tem na saúde das crianças. Este estudo envolveu 17424 crianças
entre os 3 e os 11 anos e mostrou a forte relação entre hábitos fortemente sedentários,
ver televisão por exemplo, e obesidade infantil e óbvias consequências na saúde
e bem-estar dos miúdos.
Também em 2012, um outro trabalho
divulgado na Lancet referia que em Portugal, entre os adolescentes, dos 13 aos
15, quatro em cada cinco não são fisicamente activos.
A Direcção-Geral de Saúde tem
vindo a recomendar às escolas que alimentos hipercalóricos, como doces ou
bolos, não sejam expostos, devendo ficar visíveis aos olhos dos alunos os
alimentos considerados mais saudáveis em como estão em curso medidas no sentido
de baixar a publicidade a alimentos e bebidas com maior carga calórica.
Apesar de parecer uma birra ou
teimosia acho sempre importante sublinhar a importância que deve merecer a
questão dos hábitos alimentares, sobretudo nos mais novos.
Recordo ainda um estudo divulgado
há meses da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, encontrou 17% de
rapazes e 26% de raparigas de quatro anos, sublinho, quatro anos, com excesso
de peso e obesidade e níveis de colestrol elevados, um cenário verdadeiramente
preocupante e de graves consequências futuras.
Creio ainda de sublinhar que
estudos realizados em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um
problema de saúde pública, implicando, por exemplo, o disparar de casos de
diabete tipo II em crianças.
Na verdade, a obesidade infantil
afecta um número muito significativo e crescente de crianças e adolescentes e
assenta fundamentalmente nos estilos de vida dos mais novos de que releva o
sedentarismo excessivo e a péssima qualidade genérica ao nível dos hábitos
alimentares. É de registar que as escolas têm vindo a fazer um esforço no
sentido de aumentar a qualidade alimentar da oferta, o que não parece ser
acompanhado pelas famílias, ilustrado pela desproporcionalidade do consumo de
água e de refrigerantes no contexto familiar. Ainda não há muito, estava na
sala de espera no Centro de Saúde da minha zona e uma mãe andava de um lado
para o outro com uma bebé que ainda mal andava e que, evidentemente, aparentava
peso a mais. Para conseguir que a miúda se calasse ia-lhe dando bolachas que
eram despachadas em pouco tempo. Tal situação mostra como é preciso insistir.
Sabe-se também que em adultos e
sem surpresa os números pioram, 50% dos homens e 30% das mulheres estarão em
situação de pré-obesidade ou obesidade.
As consequências potenciais deste
quadro em termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em
termos individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido, um
problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de
programas de prevenção, educação e remediação que o combatam. Provavelmente,
teremos algumas reacções contra o chamado “fundamentalismo nos hábitos
individuais” mas creio que são também de ponderar as implicações colectivas e
sociais do problema.
No entanto, como sabemos, o
excesso de peso e os riscos associados não serão, para a esmagadora maioria das
miúdos e graúdos nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não
gostam e sofrem, de diferentes formas, com isso.
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