segunda-feira, 26 de maio de 2014

APELO DE CIDADÃO ELEITOR

Do meu ponto de vista, o chamado dia de reflexão" deveria ocorrer depois das eleições e não antes. Na verdade a grande reflexão a realizar assenta no que as eleições mostraram, em diferentes sentidos.
No entanto, não me sinto preparado para competir com a nuvem de politólogos, analistas e outros opinadores  que peroram há horas sobre os resultados de umas eleições em que cerca de 73% dos eleitores, repito, 73%, não votou em qualquer das candidaturas por abstenção e voto em branco ou anulado.
Apenas quero partilhar uma nota irrelevante, aliás, trata-se mais de um apelo, resultante de alguns discursos recorrentemente produzidos por actores políticos, mais ou menos relevantes, a propósito dos actos eleitorais.
Assim, apelo vivamente aos senhores integrantes da classe política que a propósito de eleições  se inibam de elaborar comentários como “queria felicitar o povo português pela forma tranquila como está a decorrer, ou decorreu, o acto eleitoral”, “quero registar a normalidade que o povo português evidencia no cumprimento do seu dever cívico”, “os cidadãos mais uma vez mostram a sua maturidade democrática” ou ainda “o acto eleitoral está a decorrer, ou decorreu, com toda a normalidade em todo o território”. Considero afirmações desta natureza um insulto à esmagadora maioria dos cidadãos eleitores em Portugal. Que diabo pensam de nós, para se surpreenderem com a “normalidade” do nosso comportamento”. Então não é de esperar que participar num acto eleitoral, das diferentes formas possíveis,  seja algo de normal e tranquilo?
Lembro-me aqueles pais e professores que ao falarem de miúdos acrescentam de imediato “e até se portam bem”, como se o comportamento adequado seja uma surpresa e a excepção. Como se dizia no PREC, “repudio veementemente tais afirmações”.
Já agora, nós, os cidadãos que votamos, ou não, com normalidade democrática, gostávamos de poder comentar as campanhas dos políticos dizendo que tudo decorreu com a elevação, sentido ético e de esclarecimento normais. Mas não, existem sempre os insultos, a demagogia, a trafulhice nas ideias e nas promessas, a falta de esclarecimento e debate sério, etc.
Esta última campanha para as eleições ontem realizadas foi um, mais um, excelente exemplo.
A actividade política das lideranças é que não decorre com a normalidade e tranquilidade democráticas. Não tratem os cidadãos como gente incapaz e de quem sempre se espera o pior.