"Cavaco define compromisso político como pressuposto de governabilidade"
A partidocracia instalada leva a que, na generalidade das
matérias, os interesses partidários se sobreponham aos interesses gerais e a que a
conflitualidade, importante, muitas vezes estimulante e promotora de
mudança, seja assente em corporações de interesses e clientelas que inibem a
definição de rumos e de perspectivas que visem o interesse geral. O Presidente,
o Primeiro-ministro, os parceiros sociais, as lideranças partidárias e sociais
sabem-no bem, fazem parte do sistema, pelo que os seus discursos se inscrevem
no próprio funcionamento do sistema e que conduz ao que temos, sendo que as
alternativas prováveis não são particularmente animadoras.
A conflitualidade inerente aos interesses da partidocracia
torna, pois, obviamente, impossível o estabelecimento formal do tão afirmado
entendimento, compromisso, consenso, pacto, etc., por mais que a retórica
produzida por todos os actores proclame a sua necessidade.
O que a história autoriza a considerar como plausível, é
definição de uma cenário de mudança com base numa "negociação" mais
ou menos discreta e não ameaçada pela alternância de governo entre os chamados
partidos do arco do poder pois, em substância, a questão é justamente o poder.
As experiências governativas envolvendo "entendimentos" entre PS e
PSD mostram isso mesmo, morrem, pois acabam por não "servir" a nenhum
deles. Na verdade, apenas ao CDS-PP interessa um qualquer “compromisso” com PSD
ou PS pois precisa de um “colo” para chegar ao poder de que depende a sua
influência ou mesmo sobrevivência.
Assim sendo, os partidos, movimentos ou cidadãos que não têm
voz nos corredores do poder, ficarão sempre de fora do entendimento ou do
consenso, pelo que o poder, mesmo que em alternância, é a democracia a
funcionar dirão, acaba por estar basicamente nas mesmas mãos, sendo que
os que não "chegam" a estar representados no poder são a
maioria.
Talvez a emergência de vários movimentos e candidaturas que
se tem vindo a verificar nos últimos actos eleitorais indiciem alguma mudança
ou pressão para reformas nos partidos, na sua cultura e praxis.
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