sábado, 10 de maio de 2014

O IMPOSSÍVEL COMPROMISSO

"Cavaco define compromisso político como pressuposto de governabilidade"

A partidocracia instalada leva a que, na generalidade das matérias, os interesses partidários se sobreponham aos interesses gerais e a que a conflitualidade, importante, muitas vezes estimulante e promotora de mudança, seja assente em corporações de interesses e clientelas que inibem a definição de rumos e de perspectivas que visem o interesse geral. O Presidente, o Primeiro-ministro, os parceiros sociais, as lideranças partidárias e sociais sabem-no bem, fazem parte do sistema, pelo que os seus discursos se inscrevem no próprio funcionamento do sistema e que conduz ao que temos, sendo que as alternativas prováveis não são particularmente animadoras.
A conflitualidade inerente aos interesses da partidocracia torna, pois, obviamente, impossível o estabelecimento formal do tão afirmado entendimento, compromisso, consenso, pacto, etc., por mais que a retórica produzida por todos os actores proclame a sua necessidade.
O que a história autoriza a considerar como plausível, é definição de uma cenário de mudança com base numa "negociação" mais ou menos discreta e não ameaçada pela alternância de governo entre os chamados partidos do arco do poder pois, em substância, a questão é justamente o poder. As experiências governativas envolvendo "entendimentos" entre PS e PSD mostram isso mesmo, morrem, pois acabam por não "servir" a nenhum deles. Na verdade, apenas ao CDS-PP interessa um qualquer “compromisso” com PSD ou PS pois precisa de um “colo” para chegar ao poder de que depende a sua influência ou mesmo sobrevivência.
Assim sendo, os partidos, movimentos ou cidadãos que não têm voz nos corredores do poder, ficarão sempre de fora do entendimento ou do consenso, pelo que o poder, mesmo que em alternância, é a democracia a funcionar dirão, acaba por estar basicamente nas mesmas mãos, sendo que os que não "chegam" a estar representados no poder são a maioria.

Talvez a emergência de vários movimentos e candidaturas que se tem vindo a verificar nos últimos actos eleitorais indiciem alguma mudança ou pressão para reformas nos partidos, na sua cultura e praxis.

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