"Apostas na raspadinha quase duplicaram em dois anos"
As receitas da conhecida "actividade" que dá pelo nome de "raspadinha" subiram para 153 milhões no primeiro
trimestre o que contribui para uma subida no investimento dos portugueses nos
jogos sociais. O país transformou-se num país de raspadores, uns raspam-se
daqui para fora à procura do futuro que por cá não mora, os que ficam desataram a raspar à cata de
uns euros que contribuam para a sobrevivência.
Parece que mais do que nunca o
futuro está na sorte, no raspar, no jogar. No entanto, acho curiosa esta
atitude e a justificação que se ouve recorrentemente.
Na verdade, julgo que se pode
afirmar que em muitos lares portugueses, e não só, hoje mais do que nunca, uma
das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o euromilhões, para deixar de
trabalhar”. Cada um de nós já ouviu, pensou ou disse esta expressão alguma vez
ou vezes. Creio também que não é usada apenas pelos cidadãos com maiores dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização. Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à
primeira parte. Um prémio de valor substantivo representaria, seguramente, a
hipótese de acesso a um patamar superior de bem-estar económico, desejado,
naturalmente, por toda a gente. O que de facto me parece mais interessante é o
complemento “para deixar de trabalhar”. É certo que nem todas as expressões
devem ser entendidas no seu valor “facial”, mas é também verdade que a
recorrente afirmação deste desejo acaba por ilustrar a relação que muitos de
nós estabelecemos com o lado profissional da nossa vida, isto é, “quero
livrar-me dele o mais depressa possível”. Não será grave, mas é um indicador
que possibilita várias leituras.
Sabem qual é a minha inquietação?
É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu mundo “laboral”,
desatam a pedir um aumento de mesada que lhes permita apostar no euromilhões
para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.
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