quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A MINHA CONSOLA É QUE ME CONSOLA


Esta informação não surpreende. Mesmo em tempo de crise, a vida em frente a um ecrã faz parte por demasiado tempo da vida dos mais novos e ganhou excessiva importância, aliás, costumo afirmar que o ecrã passou a ser uma espécie de "babysitter" crianças e adolescentes. Os estudos sugerem que em Portugal crianças e adolescentes passem entre quatro a cinco horas com essa companhia que inclui PC, TV, consolas, telemóveis, etc.
Uma outra questão que me parece de reflectir por estar associada é que muitos miúdos vivem muito sós, mesmo quando aparentemente estão "acompanhados".
Na escola, pela sua massificação e incapacidade ou dificuldade de diferenciação, a maioria dos miúdos passa despercebida enquanto indivíduos, conhecem-se melhor os “muito bons” e os “muito maus”. Acontece mesmo que alguns miúdos só “sentem” que têm alguma atenção quando são maus. Estranhamente, ou talvez não, alguns são "maus" por isso mesmo, também.
Em casa, têm durante muitas horas um ecrã como companhia durante o pouco tempo que a escola "a tempo inteiro" e as mudanças e constrangimentos nos estilos de vida das famílias lhes deixam "livre". Também é verdade que a crescente "filiação" em redes sociais virtuais possam “disfarçar”, juntando quem “sofre” do mesmo mal e o tempinho remanescente para estar em família, quase sempre ainda é passado à sombra de uma televisão.
De há muitos anos que se sabe que não se cresce só, cresce-se na relação com pares e adultos. É por isso que, embora entenda a expressão, ouvir chamar a este tempo, o tempo da comunicação, me faz sorrir, acho mais apropriado considerá-lo o tempo do estar só ou a assistir à solidão dos outros.
Por isso recordo a afirmação de um miúdo de 11 anos colocada num desenho e que dá título a este texto, "a minha consola é que me consola".

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