Na imprensa de hoje surge uma referência a um estudo, hoje
divulgado, patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa que
revela, sem surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens,
38%, de jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os
pagar. Do mesmo estudo também releva a falta de informação expressa pelos
jovens sobre o mercado de trabalho, o que também não surpreende dada a manifesta
insuficiência dos recursos em matéria de orientação vocacional em cujo âmbito pode
ser disponibilizada informação e orientação.
Retomando a dificuldade de muitos jovens em prosseguir
estudos por falta de verbas uma primeira referência, também hoje sublinhada na
imprensa, ao desinvestimento no ensino superior que se verifica desde 2010 e
que tem implicado fortíssimas reacções de universidades e politécnico como
temos verificado.
Recordo que, de acordo com o Relatório da OCDE, Education
at a glance 2013, Portugal é um dos países europeus em que a
frequência de ensino superior mais depende do financiamento das famílias, cerca
de 31% dos gastos de universidades e politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da
União Europeia, 23,6%.
Esta informação não é nova. Na verdade e como é do
conhecimento das pessoas mais perto deste universo, o ensino superior em Portugal, contrariamente ao que muita gente afirma de forma leviana, tem um dos mais altos custos de
propinas da Europa. Conforme dados de 2011/2012 da rede Eurydice, Portugal tem
o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se considerarem as
excepções criadas em cada país, tem efectivamente o terceiro custo mais alto no
valor das propinas.
Em 2012 foi divulgado um estudo realizado pelo Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa que contribui para desmontar um equívoco que
creio instalado na sociedade portuguesa. Comparativamente a muitos outros
países da Europa, Portugal tem um dos mais altos custos para as famílias para
um filho a estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem
um esforço bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos
acedam a formação superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior
particular o esforço é ainda maior. Percebe-se assim a taxa altíssima de jovens
que exprimem a dificuldade de prosseguir estudos.
Tem vindo a ser regularmente noticiada a desistência da
frequência dos cursos por muitos alunos que, por si, ou os respectivos
agregados familiares não suportam os encargos com o estudo. Sabe-se também dos
constrangimentos na atribuição de bolsas de estudo.
Também um inquérito envolvendo estudantes de todo o país
coordenado pela Associação Académica da UTAD, apurou que 48% dos inquiridos já
passaram por dificuldades económicas e cerca de 65% temem abandonar o curso em
consequência das dificuldades.
Recordo ainda um trabalho do Público junto de um grupo
significativo de estabelecimentos de ensino superior durante o ano lectivo
passado, em que se constatou que, face a igual período do ano anterior, tinha
aumentado 6% o número de desistências do ensino superior por efeitos da crise.
Esta percentagem correspondia a cerca de 3300 estudantes o que é significativo.
As dificuldades económicas, a dificuldade no acesso a bolsas e o aumento de
propinas eram os motivos identificados.
As dificuldades pelas quais passam muitos estudantes do
ensino superior e respectivas famílias, quer no sistema público, quer no
sistema privado, são, do meu ponto de vista, considerados frequentemente de
forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal entendimento parece assentar na
ideia de que a formação de nível superior é um luxo, um bem supérfluo pelo que
... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Neste quadro, a redução significativa das bolsas e apoios,
as dificuldades enormes que muitas famílias atravessam e o desemprego mais
elevado entre os jovens, que poderia constituir uma pressão para continuar os
estudos, as elevadas propinas, designadamente no 2º ciclo, tornam ainda mais
difícil a realização de percursos escolares que promovam mobilidade social e
que se traduzem, por exemplo, no aumento das desistências.
Considerando, tal como Relatório da OCDE refere, o ainda
baixo nível de qualificação da população portuguesa e quando se espera e
entende que a minimização das assimetrias possa, também, depender da educação e
qualificação, o seu preço e as dificuldades actuais, longe de as combater,
alimenta-as.
É preocupante.
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