Com progressiva insistência parece desenhar-se uma relação
entre a tragédia que vitimou cinco estudantes universitários na Praia do Meco e
uma situação de praxe.
Apesar de o fazer com toda reserva que o desconhecimento dos
factos impõe, o processo está em investigação em várias frentes, os indícios parecem fortes o que me leva, e
levará, a retomar a velha questão das praxes académicas e dos velhos problemas que
lhes estão associados, muitas vezes, problemas graves como eventualmente será o
caso.
Na verdade, são por demais conhecidos por famílias,
estudantes e muita gente que assiste ou lida de perto com este universo bem
como objecto de referência regular na comunicação social episódios que no
âmbito das praxes académicas correm mal.
Os excessos graves nos consumos são muito frequentes e
relembro que em 2013, numa decisão pouco habitual, o Tribunal da Relação do
Porto confirmou a condenação decidida pelo Tribunal de Famalicão da
Universidade Lusíada a indemnizar a família de um aluno que faleceu no âmbito
de um episódio de praxe académica. Recordo também uma ocorrência em Beja também
com contornos muito graves no contexto das praxes académicas. Sabemos todos que
de há alguns anos para cá estas situações são comuns bem como são comuns
comportamentos de outra natureza mas, do meu ponto vista, igualmente violentos.
Creio que no final de 2012 ou já em 2013, estruturas
estudantis ligadas às praxes de nove universidades e institutos acordaram na
elaboração de um documento comum que estabeleça um conjunto de princípios que
permita regular os comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que
regularmente têm vindo a acontecer, alguns com consequências particularmente
graves que, aliás, já motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de
algumas reitorias e direcções de escola. Esta iniciativa revela por parte dos
próprios estudantes a aceitação de situações que devem ser evitadas, daí o
esforço de regulação pois os códigos já existentes não parecem ser suficientes
para assegurar o equilíbrio desejável.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um
conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação, mais do que a
regulamentação, dos comportamento nas praxes parece-me absolutamente
indispensável. Parece-me ainda importante que este movimento de regulação
integre o respeito por posições diferentes por parte dos estudantes sem que daí
advenham consequências implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente
crescida e, espera-se, autodeterminada, seja numa posição favorável ou
desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila coexistem
genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade,
humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro. Tenho assistido e tido conhecimento de cenas absolutamente deploráveis por mais que os envolvidos lhes encontrem
virtudes.
Apesar dos discursos dos seus defensores, continuo a não
conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com integrar,
insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade, abusar rima com
brincar, ofender rima com acolher, violência rima com inteligência ou coacção
rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não simpatizo com estratégias
de natureza proibicionista, sobretudo em matérias que claramente envolvem
valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo positivo a anunciada iniciativa
de regulação que envolverá diferentes academias.
Quando me refiro a esta questão, surgem naturalmente
comentários de pessoas que passaram por experiências de praxe que não entendem
como negativas, antes pelo contrário, afirmam-nas como algo de positivo na vida
universitária. Acredito e obviamente não discuto as experiências individuais,
falo do que assisto.
A minha experiência como aluno universitário, dada a época, as praxes tinham
entrado em licença sabática, por assim dizer, foi a de alguém desintegrado,
isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno porque não acedeu ao
privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar.
Provavelmente, advém daí a minha reserva.
2 comentários:
Rimar, rima. Todavia não há ligação possível!
Rimar, rima. Todavia não há ligação possível!
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