É bom termos histórias reais com
final feliz, a criança desaparecida há três dias na Madeira foi encontrada,
aparentemente bem, ao fim de 70 horas. Lamentavelmente, nem todas as situações
de crianças que desaparecem têm este desenlace.
Em Portugal, segundo indicadores
conhecidos, são reportados por ano cerca de 2000 casos de desaparecimento de
crianças e adolescentes, situações que, felizmente, na sua grande maioria são
resolvidas, os menores são encontrados.
Sobre esta questão que afecta
muitas crianças e famílias, algumas notas repescadas.
De há uns anos para cá tem sido
feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na
abordagem a situações desta natureza bem como, a maior atenção aos factores de
risco, por exemplo a net e as redes sociais que não podendo, obviamente, ser
diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Embora se saiba, como já referi,
que muitos dos casos reportados de desaparecimento de crianças e adolescentes
acabem por ter, por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento é
temporário, reactivo a incidentes ou a resultados escolares alguns
transformam-se em tragédias sem fim como o caso do Rui Pedro desaparecido há 15
anos ou menina inglesa, a Maddie, desaparececida no Algarve.
Uma situação desta natureza é uma
tragédia absolutamente devastadora numa família. Nós pais, não estamos
"programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase
"contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um
corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente,
permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como
referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação
e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar a situação é de uma
violência inimaginável.
No entanto e neste contexto,
creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão
desaparecidas mas à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática
passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas
crianças e jovens que, por várias razões, vivem à beira de pais e professores para os quais passam
completamente despercebidas, são as que eu chamo de crianças transparentes,
olhamos para elas, através delas, como se não existissem. Não estando
desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas
interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa
vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros
tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou
adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações, por
estes ninguém procura e, por vezes, também se se perdem de vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário