No Público encontra-se
uma interessante entrevista com Devon Jensen, professor universitário com
trabalho desenvolvido sobre o papel das universidades, a sua relação com os governos
e o mundo económico e empresarial, que apresentou em Lisboa uma conferência com
a estimulante interrogação como título, Is Higher Education Merely a Servant
of the Economy? .
Da extensa
entrevista cuja leitura se recomenda relevam alguns aspectos interessantes que
refiro brevemente.
Uma primeira nota
para sublinhar a atribuição de importância crucial nos tempos actuais do
investimento em formação de nível superior ainda que em diferentes formatos e
extensão. Esta afirmação contraria a lógica actualmente seguida em Portugal de
desinvestimento no ensino superior e investigação.
Parece-me também de
sublinhar a importância do investimento na formação e desenvolvimento na
formação e investigação nos domínios das ciências sociais e das humanidades.
Mais uma vez, este investimento e importância são afirmados ao arrepio da forma
insustentável como em Portugal as Ciências Sociais e das Humanidades são
consideradas pelo MEC como várias posições e discursos ultimamente produzidos e
divulgados demonstram e aos quais aqui tenho feito referência.
No mesmo sentido
parece interessante que, contrariando um discurso que se instala no sentido de
definir a oferta formativa de ensino superior com um critério quase
exclusivamente centrado na “empregabilidade”, Devon Jensen chama a atenção para
a volatilidade e mudança no mercado de trabalho, bem como para o papel de
liderança que as instituições devem assumir na definição da sua oferta, ou seja
e como já tenho referido, o ensino superior não deve ignorar o marcado de
trabalho mas não pode andar “a reboque” desse mercado que, aliás, muda a uma
velocidade enorme.
Uma última
referência para o que Devon Jensen chama de “novo paradigma” no financiamento
das universidades.
Em termos simples,
Devon Jensen afirma que sendo as empresas beneficiárias da qualificação dos
seus trabalhadores devem, por isso, financiar as universidades para a formação.
A experiência vai-me causando alguma reserva face aos “novos paradigmas” tantas
vezes referidos a propósito das mais variadas matérias que, nas mais das vezes,
de novo têm pouco e paradigma … nunca serão.
Na verdade esta
perspectiva levanta-me algumas questões. Em primeiro lugar, creio que se
considerarmos que as empresas beneficiam da qualificação superior dos seus
colaboradores então devem pagar-lhes em função dessas competências e dos
benefícios que obtêm. Com salários mais elevados os mais qualificados pagarão,
obviamente, um maior volume de impostos o que contribui mais para o
financiamento do estado e, também, do ensino superior público. A situação por
cá é assustadora pois verifica-se que empresas e também o estado pagam a
pessoas qualificadas salários miseráveis e indignos, não sendo um salário mas
antes um subsídio de sobrevivência. Como esperar que este mercado que assim
funciona venha a envolver-se num “novo paradigma” financiando o ensino
superior?
Finalmente, com as
empresas a financiar o ensino superior, creio que se acentuaria a
desvalorização do universo das ciências sociais e das humanidades. O que se
passa com alguns financiamentos à investigação mostram isso mesmo.
No entanto, creio
que a entrevista de Devon Jensen merece reflexão.
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