O Público de hoje tem uma peça interessante sobre a relação entre os jovens
e a política, ouvindo algumas pessoas e estudiosos destas matérias. A percepção
global como também alguns estudos evidenciam é de um significativo afastamento sendo
que as razões para tal são múltiplas.
Recordo que um estudo divulgado em Maio pela Comissão Europeia envolvendo
jovens e inquirindo-os se considerariam a hipótese de se candidatar num
processo de eleição política em qualquer momento da sua vida, 52% dos
inquiridos afirmou, “de certeza que não” e 26% refere, "provavelmente
não".
No âmbito da UE a percentagem dos que afirmam seguramente não querer
envolver-se na actividade política sobe para 79%. Quanto ao comportamento de
eleitor, 48% afirmou ter votado pelo menos uma vez nos últimos 3 anos o que
significa um abaixamento relativo a dados anteriores.
E Portugal os dados disponíveis também apontam para um envolvimento baixo
dos jovens na actividade política organizada.
Do meu ponto de vista existe uma questão central. Como muitas vezes tenho
referido, o modelo e cultura política instalados há décadas na nossa
comunidade, a partidocracia, fomentam, explicita ou implicitamente, o
afastamento de grande parte dos cidadãos da participação cívica activa pois,
basicamente, ela corre por dentro ou sob tutela dos aparelhos partidários.
Aliás, os níveis crescentes e muito altos da abstenção em sucessivas eleições
espelham isso mesmo.
Tal cenário alimenta um significativo e comprovado desinteresse dos jovens,
mas não só, pela coisa pública e pelo envolvimento activo. Creio também que o
grau de qualificação que as gerações mais recentes atingem é relevante nesta
atitude crítica ou desinteressada. A
participação dos jovens na coisa política tem sido conformada, quase que
exclusivamente, às juventudes partidárias, que servem, com excessiva frequência
de trampolim para os lugares políticos, Passos Coelho e António José Seguro,
são dois actuais e excelentes exemplos desta carreira.
Lembrar-se-ão que há alguns meses, o Dr. Fernando Negrão, figura de relevo
no PSD defendia que os adolescentes do 3º ciclo "não deveriam ter contacto
com a Constituição". Elucidativo.
Por outro lado, esse desinteresse pela participação cívica, alinhada nos
aparelhos, alia-se a um outro entendimento de consequências extremamente importantes,
a falta de esperança e confiança em que as coisas possam tornar-se diferentes,
ou seja, isto não muda, não adianta.
Deve, no entanto, registar-se que nos últimos tempos parece estar a emergir
alguma motivação para a acção cívica mas, significativamente, fora da tutela
partidária. São exemplos deste caminho várias manifestações envolvendo movimentos
como "Que se lixe a Troika"; "Movimento dos Indignados" ou
"Precários Inflexíveis" em que a participação de jovens parece importante.
Gente mais nova, pode trazer comportamentos e ideias mais novas.
Sem comentários:
Enviar um comentário