O contacto diário com o universo da educação e a leitura
atenta do que vai saindo na imprensa por parte dos agentes e intervenientes nos
processos educativos, que incluem tanto organizações ou instituições, como vozes
menos “institucionais”, eventualmente mais libertas de interesses corporativos
ou de outra natureza, permitem constatar um estranho consenso globalmente contrário
à PEC - Política Educativa em Curso, com uma pequena excepção, os interesses
dos estabelecimentos de ensino privado, básico e secundário, parecem estar a
ser acautelados por Nuno Crato, como hoje se lê no Público.
Este consenso, pouco habitual em Portugal, mesmo no tempo de
Maria de Lourdes Rodrigues, é sintomático e deveria ser reflectido. Os manuais
de política afirmam que não se pode governar a partir da “rua”, mas também
dizem que não se deve esquecer a “rua”. Acresce que aqui nem sequer estamos a falar
da “rua” no sentido mais habitual. Figuras de altíssimo relevo na investigação
e na ciência, os reitores e presidentes dos institutos politécnicos, bem como os
respectivos estruturas e corpos docentes, docentes do ensino básico e secundário, direcções
de escolas e representantes dos pais estabelecem um ensurdecedor coro de
críticas face às medidas globais e sectoriais e ao desinvestimento e deriva na
política do MEC.
Neste estranho cenário, o Ministro Nuno Crato prossegue com
a maior tranquilidade o seu caminho de implosão da escola pública e de
transformação regressiva da educação e do ensino, subscrevendo decisões, orientações
e práticas que a investigação e a experiência nacional e internacional não
aconselham, mas que o Ministro persiste em levar por diante.
Esta atitude de Nuno Crato que, creio, terá consequências
sérias para o nosso sistema educativo, atropelando o direito à educação de
qualidade de milhares de alunos, cada vez me lembra mais a história que se
conta no meu Alentejo relativa ao sujeito que indo, sem dar por isso, em
contramão na auto-estrada, ouve avisar pela rádio que se encontra um
automobilista a circular em contramão naquela via. O nosso amigo condutor ouviu
e interrogou-se “Só um em contramão? Porra, aqui vão todos!”.
Não, Ministro Nuno Crato, o senhor é que segue em contramão.
1 comentário:
Os Marajás uma saga sem fim, neste país à beira plantado já devolveram os cerca de 800.000 euros ...?
http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=631&id=96675&idSeccao=11007&Action=noticia
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