Já por aqui temos conversado, de forma mais séria ou através
de estórias, sobre a ideia de como o ”não” e o ”sim” são bens de primeira
necessidade na vida dos miúdos.
Acontece que, por diferentes razões, na vida das famílias,
de muitas famílias, parece estar a ser progressivamente mais difícil
administrar o “não” usando-se de forma, por vezes excessiva, o “sim”, seja de
forma mais activa ou apenas por omissão do “não”.
Tal cenário acaba por estar associado a situações em que os
miúdos evidenciam grandes dificuldades em perceber as regras e os limites do
seu comportamento, uma das funções mais importantes do “não”. Como
consequência, o comportamento dos miúdos torna-se despótico, desregulado,
transformando-os no “pequeno ditador” de que alguns falam e muitos conhecem,
gerando-se situações de grande embaraço e climas educativos e relacionais pouco
saudáveis entre graúdos e miúdos.
Assistimos com muita frequência a cenas bem exemplificativas
deste funcionamento, pais envergonhados e impotentes e meninos a fazer o que
lhes passa pela cabeça, quando lhes passa pela cabeça.
Em muitas circunstâncias, os estilos de vida dos pais, o
pouco tempo que têm para os miúdos, instalam de mansinho um sentimento de culpa
que leva a que os pais, quase sempre sem se dar conta, se inibam, para evitar
situações de tensão ou crispação que "estraguem" o pouco tempo que
têm para os filhos, de dizer de forma firme e persistente, “não”, "não
podes fazer isso". Acontece que o “não” inicial desencadeia no miúdo uma
reacção de birra, mais ou menos
exuberante, a que os pais não resistem e, é uma questão de tempo, o “não” passa
a “sim” quase sempre acompanhado de um “só desta vez”, “só uns minutos” ou
qualquer outra expressão que na circunstância atenue o desconforto.
Os miúdos são inteligentes, percebem muito facilmente quando
um não é não ou quando o não passa rapidamente a sim. Aprendem com serenidade
as regras e os limites. É, pois, fundamental que os pais se sintam confiantes e
usem o “não” de forma adequada, ainda que flexível, sem medos das “birras” ou
de perderem o afecto dos miúdos por serem “duros”. Na verdade, as crianças
precisam dessas regras e dos limites para estabelecer relações de afecto
positivas, a sua ausência é que é um risco.
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