Em poucos dias é a segunda vez que retomo a questão dos exames que pela sua imposição no 1º e 2º ciclos do E. Básico por parte do MEC, entraram de novo na agenda. No entanto, o trabalho no Público de hoje, com chamada a 1ª página, obriga a que a ele volte.
Durante anos, fomos sendo informados por boa parte da opinião publicada, veja-se, por exemplo, o peso dado às opiniões de Nuno Crato e alguns seguidores que de educação revelam pouco conhecimento, mas cujas opiniões eram, são, de audiência garantida, que os exames seriam a poção mágica que daria qualidade ao sistema educativo português.
É importante sublinhar que o universo avaliativo das escolas revelava situações absolutamente insustentáveis. Taxas de retenção altíssimas e, simultaneamente, práticas nas escolas de natureza, no mínimo, discutível, votação nas reuniões que garantiam sucesso em situações mais do que duvidosas , uma espécie de passagem administrativa, critérios relativos ao número de disciplinas e natureza das disciplinas que permitiriam a transição de ano em condições quase bizarras, pressão sobre as avaliações a realizar, de forma a que as "estatísticas" da educação fossem mais positivas, etc, de tudo acontecia, acontece. Este cenário tornou-se favorável aos discursos dos fundamentalistas dos exames como a "poção mágica" que viria devolver "rigor e exigência" à avaliação.
De há muito que defendo, neste e noutros espaços, que a imprescindível melhoria dos resultados escolares não depende exclusivamente dos exames e da retenção dos alunos. A retenção não promove o sucesso, pelo contrário, alimenta-o, é caríssima, está na base do abandono escolar, etc. A minha posição e a de outras pessoas com a mesma visão, radica, sobretudo, na realidade conhecida noutros países, nos estudos realizados e conhecidos sobre esta matéria, no conhecimento da realidade das escolas portuguesas, etc. Mas estas opiniões não tinham acolhimento público, contrariavam a opinião publicada e que vende bem, mais exames, mais rigor, mais exigência.
Nos últimos dias, um Relatório da OCDE sobre o universo da avaliação em Portugal veio relançar a discussão, afirmando tudo o que sempre defendemos. Reter mais alunos à luz do "rigor" e da "exigência" é ineficaz e não promove o sucesso. O trabalho do Público de hoje, na linha de um excelente editorial de 11 de Abril mostra, felizmente, alguma mudança na opinião publicada, o texto escuta e divulga o discurso de pessoas do universo da educação que recusam aceitar os exames como a "poção mágica" cratesa que gerará a qualidade.
A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas exige a mobilização oportuna, eficaz e suficiente de dispositivos de apoio a alunos, professores e famílias de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É necessário diversificar a oferta de percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação profissional.
A qualidade também aumenta com a avaliação adequada do trabalho dos professores e directores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo ou com o fomento da autonomia responsabilizada, como também a OCDE referiu no Relatório de há dias.
A defesa de mais exames, como muitas vezes é feita, em nome do combate ao "facilitismo" é, nas mais das vezes, um discurso demagógico, ele sim, "facilitista". No entanto, as referências a exigência e a rigor vendem bem, ainda que deixem de lado os aspectos mais essenciais. da educação, como bem acentua o trabalho da OCDE.
Sem comentários:
Enviar um comentário