Na imprensa de hoje relevam duas referências que me deixaram francamente impressionado, mas não surpreendido.
Um alto burocrata da Comissão Europeia, Peter Weiss, o chefe adjunto da missão da troika, afirmou que o corte dos 13º e 14º meses aplicada a funcionários e pensionistas para 2012 e 2013 possa vir a tornar-se permanente. Também imagino que esta permanência implicará a sua extensão ao sector privado.
Acho absolutamente inaceitável o despudor insultuoso com que a soberania é tratada. Este funcionário, no cumprimento zeloso do seu papel de voz do dono, os mercados, produz antecipadamente decisões políticas que, como bons alunos, os feitores que nos governam certamente acatarão logo que a ordem seja dada.
A outra referência prende-se com a afirmação do mesmo burocrata de que a subida dramática do desemprego "talvez se deva ao facto de trabalhadores e empresas quererem antecipar às novas regras, mais apertadas, do subsídio de desemprego, de modo a beneficiarem de situações mais confortáveis".
Diz este feitor que é como quem compra cigarros imediatamente antes do preço do tabaco subir, ou seja, os trabalhadores pediram para que fossem mandados para o desemprego antes as alterações das regras do subsídio de desemprego para ficarem "beneficiados".
Mais um insulto. Saberá este indivíduo o que é a condição de desempregado ou de família de desempregados? Este burocrata é manifestamente incapaz de perceber como o desemprego fere e rouba a dignidade de quem nele cai. Não preciso que me digam que algumas pessoas se aproveitam da situação, nós sabemos todos. Mas também sabemos que esmagadora maioria das pessoas no desemprego se desespera pela falta do que o povo chama o ganha-pão, o sustento, ou seja, a dignidade da independência e da liberdade.
Mais me incomoda, mas também não me surpreende, que o governo português oiça intervenções desta natureza sem uma reacção violenta e defensora da soberania e da dignidade de perto de um milhão de pessoas em situação de desemprego em Portugal.
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