quinta-feira, 12 de abril de 2012

O TEMPO "LIGHT" EM TEMPOS DE CHUMBO

De há uns anos para cá tem vindo a emergir uma espécie de “lightificação” da nossa vida. Este movimento tem expressão em variadíssimas áreas de funcionamento.
Desde logo uma referência à alimentação “light” que, consoante a opção, me deixa num estado entre a culpa e a fome.
O vestuário passou de informal a “light” assistindo-se de mansinho à recuperação de “dressing codes”, em escolas por exemplo, de modo a prevenir alguns excessos de “lightismo”. A linguagem escrita e falada, sobretudo a escrita, com a massificação da utilização dos “códigos” SMS tornou-se para muitos de nós uma espécie de “guess game” de tanta abreviatura empregue.
Os comportamentos, logo nos miúdos, parecem ter passado também por um processo de “lightificação” na medida em que em muitas circunstâncias aparecem completamente desregulados e fora de regras ou limites.
Os modelos de desenvolvimento económico assentes num neo-liberalismo agressivo e no endeusamento dos mercados entraram numa espiral em que tudo parece ser permitido sem pudor ou respeito pelas pessoas, promovendo exclusão e pobreza sem qualquer sobressalto e que, quando acontece, merecem um tratamento ele próprio em versão “light”.
Também ao nível da cultura, a literatura é em bom exemplo, ou da comunicação social, os produtos “light” são os mais bem sucedidos e procurados, a espuma é a notícia, o acessório passou ao essencial, etc.
Finalmente, no universo dos valores, sobretudo na sua dimensão ética, mergulhámos numa espécie de despudor “light” que os discursos e comportamentos da maioria das elites económicas e políticas ilustram diariamente, sem um mínimo de preocupação mesmo que falsa e inconsequente.
Curiosamente, todo este ambiente “light” coexiste com os tempos de chumbo que vivemos, insustentavelmente pesados para muita gente, cada vez mais gente, que, provavelmente para compensar, também se refugia no “light”.

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