Alguma imprensa de hoje refere, a propósito da realização de um Seminário sobre delinquência juvenil, a emergência de situações de adolescentes que agridem os pais, designadamente, por não gerirem eficazmente a frustração de não verem satisfeitos os seus desejos, ou seja, os pais não lhes dão o que querem.
Nas peças a que tive acesso, não são disponibilizados indicadores de prevalência mas, de qualquer forma, parecem-me justificáveis algumas notas. Na verdade, começa a ser publicada informação relativa à dificuldade, diria incapacidade, que muitos pais sentem para lidar com os problemas colocados pelos filhos.
Segundo alguns dados de 2011, cerca de 9%, dos casos de pedido de ajuda às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens foram realizados pelos pais, o que correspondia a perto de 2350 situações.
Na maioria dos pedidos tratava-se naturalmente de situações em que os pais já não conseguem controlar os comportamentos e atitudes de adolescentes, ou mesmo de crianças, pelo que recorrem às Comissões em situação muitas vezes de desespero e completamente fora de controle. Estas, através de um esforço de mediação, procuram evitar a situação, por vezes desejada pelos pais, da retirada da criança ou jovem do agregado familiar com recurso à institucionalização. Parece correcta a tentativa de manter até ao limite a integridade da família, desde que em condições de funcionalidade e equilíbrio.
A experiência mostra-me de há muito que o exercício da parentalidade, em algumas circunstâncias, não é tarefa fácil, as crianças e adolescentes colocam problemas novos com que muitos pais, e até profissionais, têm dificuldade em lidar. Embaraça-me a excessiva ligeireza com que frequentemente se culpam os pais pelos problemas dos filhos. Enquanto pais serão responsáveis, mas por vezes os problemas estão para além da capacidade de resposta das famílias. Não estou a falar dos casos de negligência, que também existem e devem ser objecto de intervenção, mas de dificuldades reais sentidas por pais que querem ser bons pais e da inexistência de estruturas de apoio acessíveis e generalizadas que ajudem a lidar com essas dificuldades.
Neste contexto e porque os problemas das crianças e jovens em idade escolar não podem deixar de envolver as escolas, parece-me imprescindível que nos estabelecimentos educativos ou próximo e com funcionamento articulado, existam dispositivos de apoio às famílias e ao exercício da parentalidade que ajudem no trabalho dos pais e na relação destes com a escola. Como exemplos podemos referir o trabalho meritório desenvolvido pelos Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família, experiência tutelada pelo Instituto de apoio à criança ou o programa de educação parental destinado a pais de crianças ou jovens em risco desenvolvido com o apoio da Fundação Gulbenkian e sob a coordenação do Professor Daniel Sampaio.
As mudanças observadas no quadro dos valores, estilos de vida e culturas exigem uma atenção redobrada a problemas emergentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário