Gostei de ler o texto de Manuel
Matos Monteiro “Admirável Língua Nova (Parte II)” no qual fica bem evidente a
mixórdia em que o Acordo do nosso descontentamento transformou a Língua
Portuguesa.
Um excerto.
(…)
Com a Base XV, Ponto 6, adeus, hífenes, nas “locuções de qualquer
tipo”. Nelas, atente bem, caro leitor, “não se emprega em geral o hífen, salvo
nas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia,
arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à
queima-roupa)”. Mas como se determinam, como se identificam as “exceções já
consagradas pelo uso”?, perguntará o leitor, como perguntam tantos professores
de Português, cientes de que não alcançam a resposta nem a forma de ensinar o
inexplicável aos alunos. Os acordistas guardam veladamente o segredo desde
1990.
Há certamente uma lógica escondida que o leitor não capta:“pé-de-cabra” perde os hífenes, mas “pé-de-meia” não; “cor-de-rosa” é com hífenes, mas “cor de laranja” sem; “fim-de-semana” passa a escrever-se “fim de semana”, como todas as fontes explicativas do Acordo sentenciam. É evidente, leitor, que “fim de semana” é – já o era em 1990, caramba!, que desatento que o leitor andava – uma locução que pertence ao grupo do “em geral” e não ao grupodas “exceções já consagradas pelo uso”, ao contrário das inequívocas “arco-da-velha” ou “água-de-colónia”, por exemplo, que pertencem – está-se mesmo a ver porquê! – ao grupo das “já consagradas pelo uso”. Talvez, quem sabe?, leitor, tudo resida naquele “já” (de 1990!). Ou isso ou o Acordo é uma grande comédia do absurdo.
(…)
Imperdível.
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