quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

OS REMADORES E OS TIMONEIROS

Houve um tempo em que as diferentes terras decidiram realizar provas de canoagem. Cada canoa tinha onze tripulantes.
Depois de várias provas verificava-se que a canoa que representava aquela terra onde acontecem coisas ficava quase sempre em último lugar. Tentando perceber a razão de tão magros resultados os responsáveis daquela terra criaram um grupo de trabalho para analisar a questão e, naturalmente, propor soluções.
A profícua, demorada e cara análise do grupo de trabalho mostrou que, de uma forma geral, as canoas das outras terras tinham um timoneiro e dez remadores enquanto a canoa da terra onde acontecem coisas tinha um director-geral, dois assessores, dois subdirectores-gerais, dois directores de serviço, três chefes de divisão e um remador.
Ao constatar tal cenário, o grupo de trabalho logo viu a razão dos sucessivos maus resultados e promoveu as mudanças necessárias. Assim, a tripulação passou a contar com um director-geral, um assessor, dois subdirectores-gerais, dois directores de serviço, quatro chefes de divisão e procederam também à substituição do remador. Acontece que nas provas seguintes os resultados continuaram a ser péssimos e sentiu-se a necessidade de se tomarem, finalmente, medidas drásticas. A toda a tripulação foi atribuído um aumento de vencimento e um prémio de produtividade à excepção do remador que foi despedido com justa causa após um processo que evidenciou inaptidão funcional.
Serve esta história para comentar a notícia relativa a uma auditoria do Tribunal de Contas à Entidade Reguladora da Saúde que, entre outras matérias preocupantes, mostrou que no quadro de pessoal existe um rácio de um dirigente por cada três funcionários, isso mesmo, um timoneiro por cada três remadores.
Esta situação decorreu de uma reestruturação interna em 2013 que mais do duplicou o número de dirigentes. Excelente trabalho de reestruturação.
Talvez seja ainda de recordar que, como sabem, continua na agenda de algumas lideranças políticas e económicas a flexibilização da legislação laboral, ou seja, a flexibilização do despedimento dos “remadores”. 
Nada de novo.

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