Houve um tempo em que as
diferentes terras decidiram realizar provas de canoagem. Cada canoa tinha onze
tripulantes.
Depois de várias provas
verificava-se que a canoa que representava aquela terra onde acontecem coisas
ficava quase sempre em último lugar. Tentando perceber a razão de tão magros
resultados os responsáveis daquela terra criaram um grupo de trabalho para analisar
a questão e, naturalmente, propor soluções.
A profícua, demorada e cara
análise do grupo de trabalho mostrou que, de uma forma geral, as canoas das
outras terras tinham um timoneiro e dez remadores enquanto a canoa da terra
onde acontecem coisas tinha um director-geral, dois assessores, dois
subdirectores-gerais, dois directores de serviço, três chefes de divisão e um
remador.
Ao constatar tal cenário, o grupo
de trabalho logo viu a razão dos sucessivos maus resultados e promoveu as
mudanças necessárias. Assim, a tripulação passou a contar com um
director-geral, um assessor, dois subdirectores-gerais, dois directores de
serviço, quatro chefes de divisão e procederam também à substituição do
remador. Acontece que nas provas seguintes os resultados continuaram a ser
péssimos e sentiu-se a necessidade de se tomarem, finalmente, medidas
drásticas. A toda a tripulação foi atribuído um aumento de vencimento e um
prémio de produtividade à excepção do remador que foi despedido com justa causa
após um processo que evidenciou inaptidão funcional.
Serve esta história para comentar
a notícia relativa a uma auditoria do Tribunal de Contas à Entidade Reguladora
da Saúde que, entre outras matérias preocupantes, mostrou que no quadro de
pessoal existe um rácio de um dirigente por cada três funcionários, isso mesmo,
um timoneiro por cada três remadores.
Esta situação decorreu de uma
reestruturação interna em 2013 que mais do duplicou o número de dirigentes.
Excelente trabalho de reestruturação.
Talvez seja ainda de recordar
que, como sabem, continua na agenda de algumas lideranças políticas e
económicas a flexibilização da legislação laboral, ou seja, a flexibilização do
despedimento dos “remadores”.
Nada de novo.
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