Paulo Guinote tem hoje no Público
um texto sobre a questão dos manuais escolares que reentrou na agenda através
de duas recentes reportagens televisivas, "Manuais escolares: Sensacionalismo e Inconsequência".
O texto merece reflexão. No
entanto, para além das questões pertinentes levantadas julgo que seria útil e
oportuno ir estendendo a discussão à própria utilização dos manuais em sala de
aula.
Na verdade, a questão dos manuais
no nosso sistema educativo, já o tenho escrito, é de importância significativa
pois parece-me excessivamente "manualizado", o que tem óbvias
implicações didáctico-pedagógicas e naturalmente económicas pelo peso nos
orçamentos familiares.
Apesar da progressiva
disponibilização de outras fontes de informação e do acréscimo de
acessibilidade através das tecnologias de informação e de outros suportes, a
utilização dessas fontes alternativas aos manuais é baixa e pouco valorizada
por pais e alunos. De facto, embora o abandono do “livro único” tenha ocorrido
há já bastante tempo e de uma preocupação, ainda pouco eficaz, com a qualidade
dos manuais, predomina a sua utilização e das respectivas fichas e instrumentos
como materiais de apoio às aprendizagens e à “ensinagem” e que agravam
substantivamente os custos das famílias.
Para além de imenso material de
outra natureza, temos em cada área programática ou disciplina uma enorme gama
de cadernos de fichas, cadernos de exercícios, cadernos de actividades,
materiais de exploração, etc. etc. que submergem os alunos e oneram as bolsas
familiares, até porque muitos destes materiais não são incluídos nos apoios
sociais escolares.
Em muitas salas de aula, dada a
natureza da estrutura e conteúdos curriculares e do estabelecimento de forma
desastrada das metas curriculares, corre-se o risco de substituir a
“ensinagem”, o acto de ensinar, pela “manualização” ou “cadernização” do
trabalho dos alunos, ou seja, a acção do professor será, sobretudo, orientar o
preenchimento dos diferentes dispositivos que os alunos carregam nas mochilas.
É verdade que a minimização da
dependência dos manuais envolve um conjunto de variáveis que devem ser
consideradas.
Passará por uma reorganização e
flexibilização curricular, diminuindo a extensão de algumas conteúdos, por
exemplo, o que permitiria a alunos e professores um trabalho de pesquisa e
construção de conhecimentos com base noutras fontes potenciando, por exemplo, a
acessibilidade que as novas tecnologias oferecem.
Passará pelo ajustamento no
número de alunos por turma de modo a permitir melhores níveis de diferenciação
pedagógica e, assim, acomodar outros suportes ao processo de ensino e
aprendizagem.
Passará ainda por maior autonomia
de escolas e professores e recursos que acomodem dispositivos de apoio,
voltamos às tutorias por exemplo, que diversifiquem e diferenciam as formas e materiais
de trabalho bem como respondam mais eficazmente à diversidade entre os alunos.
Creio que seria importante
caminharmos no sentido de atenuar a fórmula instalada que de forma simplista se
pode enunciar, o manual formata operacionalmente o currículo, o professor
ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que o pai
acha muito importante porque tem tudo o que professor ensina.
Não esqueço, no entanto, o peso das
decisões em matéria de política educativa bem como o peso económico deste
mercado.
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