Parece-me interessante o texto do Dr. Pedro Cabral no
Público, “Défice de atenção e perturbações do comportamento na escola e em
casa: medicar ou não medicar?”
É abordada a necessidade de avaliar com a devida
profundidade e competência as queixas sobre eventuais dificuldades de atenção
ou hiperactividade por parte de família e escola bem com preocupação central de
compreender o que pode efectivamente estar induzir esses comportamentos
(sintomas).
Como costumo dizer, para dar boas respostas é necessário
fazer boas perguntas (avaliar) pois
risco de não acertar é grande.
Como escreve Pedro Cabral, “(…) Porque neste ignorar das
causas, que a medicação pode permitir, corremos o risco sério de adiar a
construção da responsabilidade, pelo próprio, na gestão das suas tarefas e
objectivos. Quando a tal hiperactividade tiver desaparecido, com o tempo,
podemos encontrar um jovem "imaturo" porque desatento, incapaz de
trabalhar sozinho ou sem ser pressionado, indiferente aos resultados, esperando
que as coisas se resolvam com o tempo. (…)
De forma simplista afirmo que algumas destas crianças não
têm perturbações do desenvolvimento experimentam perturbações no envolvimento.
Agora um pouco mais a sério, sabemos todos que existe um
conjunto de problemas que pode afectar crianças e adolescentes, esses problemas
devem ser abordados, se necessário com medicação, evidentemente, mas,
felizmente, não são tantos as situações como por vezes parece. Inquieta-me
muito a ligeireza com que frequentemente são produzidos
"diagnósticos" e rótulos que se colam aos miúdos, dos quais eles
dificilmente se libertarão e que pela banalização da sua utilização se produza
uma perigosa indiferença sobre o que se observa nos miúdos.
Inquieta-me ainda a ligeireza com que muitos miúdos aparecem
medicados, chamo-lhes "ritalinizados", sem que os respectivos
diagnósticos conhecidos pareçam suportar seguramente o recurso à medicação.
A sobreutilização ou uso sem justificação do metilfenidato e
de outros fármacos tem consequências como também refere Pedro Cabral.
Esta matéria, avaliar e explicar o que se passa com os miúdos
e adolescentes, exige um elevadíssimo padrão ético e deontológico além da óbvia
competência técnica e científica.
Não se pode aligeirar, é demasiado importante.
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