O Público noticia que cerca de
1200 professores realizaram formação para o desempenho da função de professor
tutor com grupos de alunos do ensino básico que tenham duas ou mais retenções.
Estas funções enquadram-se no
Programa Tutorial criado pelo ME em substituição do errado modelo de ensino
vocacional destinado a estes alunos, nos moldes em que estava a funcionar,
evidentemente.
Estes professores tutores terão a
seu cargo grupos de até 10 alunos e disporão de 4h semanais para a sua realização.
Como disse na altura em que foi
anunciado, o programa tutorial parece-me um dispositivo muito interessante e
que vem na continuação, é bom lembrá-lo, de várias experiências e práticas
desta natureza que muitas escolas e agrupamentos desenvolvem com resultados
positivos mas com dificuldades em matéria de recurso ou com a utilização de
meios exteriores à escola como é o caso da intervenção da Associação EPIS.
Existe também muita evidência, como agora se diz, que sustenta a bondade
dispositivos de natureza tutorial.
O Programa de Tutoria em desenvolvimento terá
a vantagem de ser desenvolvido pela equipa da escola e não por recursos
exteriores ao sistema educativo e, como tal, inexistentes em todas as escolas.
No entanto, como também disse,
parece claro que em quatro horas semanais com 10 alunos para um programa de
tutoria com o perfil de intervenção definido e que julgo adequado, dificilmente
poderá produzir resultados significativos embora, naturalmente, deseje muito que tal aconteça.
Vejamos as funções atribuídas.
a) Reunir nas horas atribuídas
com os alunos que acompanha;
b) Acompanhar e apoiar o processo
educativo de cada aluno do grupo tutorial;
c) Facilitar a integração do
aluno na turma e na escola;
d) Apoiar o aluno no processo de
aprendizagem, nomeadamente na criação de hábitos de estudo e de rotinas de
trabalho;
e) Proporcionar ao aluno uma
orientação educativa adequada a nível pessoal, escolar e profissional, de
acordo com as aptidões, necessidades e interesses que manifeste;
f) Promover um ambiente de
aprendizagem que permita o desenvolvimento de competências pessoais e sociais;
g) Envolver a família no processo
educativo do aluno;
h) Reunir com os docentes do
conselho de turma para analisar as dificuldades e os planos de trabalho destes
alunos
Quem conhece a realidade das
escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com desmotivação,
desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida, falta de
enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos escolares de
anos anteriores, etc., quase sempre presentes e só para referir dimensões
relativas aos alunos, percebe a dificuldade de reverter, para usar um termo em
voga, o seu trajecto escolar.
À luz do que me parece ser um
trajecto de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME
orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que
fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo
destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e
objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às
escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
Sabemos, é uma referência comum,
a existência de “constrangimentos” que pesam nos recursos disponíveis.
No entanto, mais uma vez e não
esquecendo a necessidade de combater desperdício e ineficácia, é bom recordar
que a qualidade da educação e a promoção do sucesso para todos os alunos não
representam despesa, são investimento.
1 comentário:
Inteiramente de acordo.
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