No Público encontra-se a referência
a um estudo da FCSH da U. Nova relativo à relação das crianças com os
dispositivos como smartphones, computador televisão ou telemóveis.
Umas notas sobre um dos dados
divulgados, uma em cada cinco crianças com menos de 8 anos tem telemóvel.
Nos tempos que correm é uma
questão que em aberto, a idade de acesso, a natureza da utilização destes
dispositivos por parte das crianças e o papel dos adultos.
Em
muitos encontros com pais também esta questão é-me colocada com frequência.
Recordo que uma mãe de uma criança de 4 anos que acabava de me interpelar
acrescentava que a filha pedia insistentemente o telemóvel porque outros
colegas da mesma idade também tinham.
Como em várias outras matérias,
sair à noite por exemplo, não creio que exista a “idade certa” depende das
circunstâncias de contexto, da maturidade individual, da justificação para a o
uso do telemóvel, etc.
Parece razoavelmente claro que
até aos 10 ou 12 anos a “necessidade” do telemóvel é mais dificilmente
justificada embora também não me pareça defensável uma visão fechada.
No entanto, do meu ponto de
vista, a questão é de outra natureza não decorre fundamentalmente da
necessidade, decorre dos valores e cultura que se vão instalando. O telemóvel
passou a ser um instrumento que TODA a gente tem e sem o qual, como vários
outros bens, não se é Gente.
Neste quadro e sem surpresa os
mais novos também querem ser Gente e, para isso, querem ter um telemóvel.
Deve ainda considerar-se que o
comportamento de muitos pais, tempos significativos com o telemóvel ou outro
dispositivo, induzem nas crianças, por um lado, a percepção que “aquilo” é para
se ter, pai, mãe, toda a gente tem. Por outro lado, muitos adultos tendo o
telemóvel sempre à mão entendem quase sem se dar conta que é um “brinquedo” que
também pode ir para as mãos das crianças que, evidentemente, não o querem
largar.
Sabemos também que o mercado,
sempre o mercado, também percebe que os mais novos são um “target”, como se diz
em publicidade, extremamente atractivo pelo que produzem telemóveis
especialmente destinados às crianças que, naturalmente, usam todo o seu enorme
e irresistível poder de persuasão e “charme” para convencer os pais a adquirir.
Como em tudo na vida das crianças
são requeridos dois condimentos imprescindíveis, bom senso e regras.
Neste sentido, apesar da
insistência das crianças importa que se resista ao ter (dar) tudo em qualquer
altura. As crianças (muitos adultos também) precisam imprescindivelmente de
saber que não se pode ter tudo, no minuto que se quer. Neste processo oferecer
alternativas, “isto não mas isto sim” e não ceder pode ajudar as crianças a
lidar com a óbvia frustração e, simultaneamente, a interiorizar que NÃO se pode
ter tudo no tempo em que se deseja.
Depois, a partir do momento em
que se acede ao telemóvel, momento que o bom senso dirá quando deve ser,
importa a sua utilização com regras.
Muitas vezes aqui tenho referido
que as regras, os limites, são bens de primeira necessidade para o
desenvolvimento saudável das crianças. Assim sendo, também o uso do telemóvel,
é disso que hoje estou a falar, deve ser realizado com regras claras e
CUMPRIDAS.
A questão é que em muitas
famílias, por diferentes razões que aqui já tenho escrito, nem sempre este
processo de definição de regras e limites é o mais eficiente e coerente.
Não é bom para as crianças e para
o seu desenvolvimento como também não é bom para os pais.
Mas é o caminho, se for preciso
com ajuda de educadores, professores e técnicos.
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