O povo português usa a expressão “tratar da saúde” com muita frequência num sentido irónico, isto é, ouvimos alguém dizer, por exemplo, “eu tratava-lhe da saúde”, significando exactamente o contrário, “eu dava-lhe cabo do canastro”.
O Ministério tem vindo a tomar decisões que parecem inscrever-se neste entendimento, ou seja, organiza-se, decide e actua para nos dar cabo do canastro, o que é, no mínimo, preocupante.
Segundo o Público, os cidadãos com quadros clínicos de epilepsia terão de submeter-se a uma junta médica que ateste essa condição de forma manterem a isenção das taxas moderadoras. Os especialistas descrevem o processo como altamente burocratizado e inibidor da qualidade da assistência médica a estes doentes, entre 50 e 60 000 em Portugal.
Esta decisão, a juntar a várias outras que têm vindo a ser tomadas embora sustentadas na austeridade e contenção orçamental comprometem seriamente a acessibilidade e universalidade aos cuidados de saúde. Várias entidades têm vindo a pronunciar-se contra os riscos de muita gente deixar de procurar os serviços de que necessita devido às dificuldades económicas que atravessa bem como as dificuldades e custos advindas dos próprios serviços.
Aliás, há uns tempos, um estudo da DECO sobre a acessibilidade dos portugueses aos serviços de saúde revelou alguns dados preocupantes. Em primeiro lugar, seis em cada dez famílias exprimem dificuldades em suportar as despesas com a saúde. Destas, quase metade adiaram o início de terapias e cerca de 40% nem pondera iniciá-las por questões económicas. Cerca de 20% contraíram créditos para este efeito, a maioria no último ano.
De facto, na boa tradição da expressão popular “tratar-lhe da saúde”, o Ministério da Saúde assumiu esse entendimento da sua função, trata-nos da saúde até …
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