sábado, 24 de dezembro de 2011

VIVER SÓ, NÃO SAIR, MORRER DE SOZINHISMO

Não queria mesmo atrapalhar o espírito natalício mas não pude deixar de reparar no trabalho do Público sobre o projecto Mais Proximidade Melhor Vida, um projecto do Centro Social e Paroquial de São Nicolau de ajuda e apoio a idosos que vivem só, frequentemente em andares elevados e com sérios problemas de mobilidade.
A propósito talvez seja de recordar que dados do Censo 2011 mostram o crescimento exponencial das pessoas que vivem sós, 37,3 % em dez anos, representando agora 21,4 %. Este quadro decorre fundamentalmente do envelhecimento da população pelo que boa parte dos que vivem sós são velhos e não uma opção de modelo de vida ou situação transitória.
É também conhecido que nos últimos tempos são múltiplos os episódios de velhos que morrem sem que se dê conta de tal tragédia.
Não sou, não quero ser, especialista nestas matérias mas creio que muitas destas pessoas morrem de sozinhismo, a doença que ataca os que vivem sós e perderam o amparo. Algumas pessoas terão morrido de solidão e não de outras causas que possam vir a figurar nas certidões. Quem não vive só mais facilmente resiste às mazelas que a idade trás quase sempre. As pessoas são, espera-se, fonte de saúde e calor. E este universo, as pessoas velhas que vivem só e em isolamento tende a alargar-se conforme os dados do Censo confirmam. Em Lisboa, segundo alguns trabalhos, estima-se uma "realidade de total isolamento diário para 59 por cento da população que reside sozinha, evidenciando um risco de solidão” e completamente dependentes das relações de vizinhança comunitária, elas próprias em extinção. Este cenário sublinha a importância do trabalho desenvolvido no âmbito do Projecto retratado no Público.
Esta é que é verdadeiramente a causa de morte de muitos idosos. Por isso e como sempre, para além das necessárias políticas sociais emergentes do estado e das instituições privadas de solidariedade impõe-se a percepção pelas comunidades, designadamente pelas famílias, do drama da solidão e isolamento. Os dados recolhidos e, portanto, conhecidos devem servir de base a políticas ajustadas à realidade.
É também uma questão de redes sociais, mas não das virtuais.

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