O Público de hoje traz um interessante trabalho sobre um universo que de tão perto quase não reparamos, o universo dos figurantes.
O jornal abordou as experiências de pessoas que vestem em situações de figuração as mais variadas peles, sendo que nesta altura surgem à cabeça os figurantes de Pai Natal.
Estranhamente, a peça não se refere aos que na sua vida diária são considerados figurantes de cenas onde, muitas vezes, não querem participar. Estou a referir-me a boa parte de nós e partilho alguns exemplos que ilustram este entendimento.
A maior parte das pessoas são figurantes de quem os novos deuses, os mercados, dispõem sem ética nem valores, obrigando-os a papéis que muitos não antecipavam, o de pobres ou excluídos.
Muitas das políticas que sofremos atribuem-nos uns papéis, o de pagantes de muito do desperdício e excesso de que se alimentam, não os figurantes, mas uns, poucos, figurões.
Muitas pessoas perdem a dignidade e assumem a figuração numérica, são números, números do desemprego e de outras estatísticas.
De mansinho, país após país, os governantes eleitos, mal ou bem, vão sendo substituídos por uns tecnocratas sem legitimidade política e democrática, mandatados pelos mercados e seus agentes operacionais. O resultado é que, passo a passo, nos vamos transformando em figurantes da democracia, é apenas um papel que assumimos esporadicamente e sem convicção.
Muitos miúdos, quer na escola, quer na família, são meros figurantes, por diferentes razões desempenham num contexto e noutro papéis sem relevo. Muitas outras situações poderíamos encontrar que ilustram o mundo de figurantes que vai sendo o nosso, cada vez parecemos menos auto-determinados.
Neste contexto, o da figuração, o Pai Natal será uma boa opção, os miúdos pequenos ainda acreditam nele.
Sem comentários:
Enviar um comentário