domingo, 11 de dezembro de 2011

É FIXE PODER CONVERSAR

No Público aparece um trabalho estimulante e creio que inspirador sobre alguns programas de mentorado desenvolvidos nos Estados Unidos.
Deve dizer-se que em Portugal algumas escolas do ensino básico e secundário, algumas instituições de solidariedade social ou instituições de ensino superior, desenvolvem programas com uma natureza próxima recorrendo à figura tutor, mais próxima de nossa experiência, embora não exactamente com o mesmo papel do mentor.
A questão central e na qual assenta boa parte do sucesso deste tipo de programas é a existência de uma figura de mediação entre os adolescentes, no caso, e o mundo, quase sempre sentido como adverso, em que vivem. Esta figura de mediação cumpre um papel central, alguém com quem conversar, que escute, que tenha disponibilidade e não exerça "um cargo" mas sim uma função na vida desses adolescentes.
Se bem repararmos nos diferentes testemunhos transcritos, é clara a importância atribuída ao "alguém" com quem conversar.
Muitas vezes tenho abordado no Atenta Inquietude como é excessivamente frequente a situação de miúdos que se sentem perdidos, na escola e na família, com dificuldade ou incapacidade, por razões de vária ordem, de dialogar com os adultos do seu contexto de vida, quer escolar, quer familiar. Como é previsível, a sua quase exclusiva companhia será a de outros adolescentes tão perdidos e abandonados quanto eles.
Neste contexto, a existência de figuras próximas, disponíveis, com quem é possível estabelecer relações de confiança e disponibilidade que amorteçam mal-estar e ameaças, e contribuam para pensar, repensar, orientar escolhas e trajectos, que ajudem a emergir competências e projectos, não podem deixar de assumir um papel importante na vida de muitos dos adolescentes, e não só, envolvidos nestes programas.
Parece ainda de sublinhar o facto de os programas de mentorado, apesar de globalmente poderem ter uma tutela institucional, se desenvolverem numa situação de proximidade, sem o peso de uma instituição e, portanto, mais facilitadora de relações próximas, menos formais, de maior confiança.

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