Eduardo Lourenço, uma das nossas maiores figuras foi distinguido com o Prémio Pessoa 2011, reconhecimento devido e adequado à sua dimensão.
Nos tempos que atravessamos faz todo o sentido visitar e reflectir sobre o seu pensamento. Estou a lembrar-me de um título de uma das obras de Eduardo Lourenço, O Esplendor do Caos, e das palavras iniciais de um dos textos, “Enquanto dura, o que nós chamamos o caos evoca a ideia não apenas de confusão e desordem dos elementos, mas de incapacidade do espírito para compreender e, ainda menos, dominar um estado de coisas, do mundo, da sociedade, da história, onde não se vislumbra a sombra de uma ordem”.
De facto, a observação do que é actualmente a cena política portuguesa, e não só, faz regressar a Eduardo Lourenço.
Quando cada vez com mais urgência parece necessário um estabelecimento de um desígnio, de um entendimento mobilizador que congregue esforços e projectos, mais se assiste ao despudorado calculismo decorrente de interesses pessoais ou partidários. Quando parece urgente a elevação de padrões éticos e de transparência na coisa pública, sempre aparece mais um episódio de nível ainda inferior, quando já pensávamos ter batido no fundo. Quando a situação dramática que aflige milhões de nós exigiria que essa situação fosse a prioridade das prioridades, emerge um ruído ensurdecedor sobre questões acessórias. Os modelos de desenvolvimento social e económico hipotecados aos deuses do mercado fomentam e produzem pobreza e exclusão.
Como sempre digo, a questão é que não vejo indicadores de mudança, “não se vislumbra a sombra de uma ideia” como refere Eduardo Lourenço.
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